Em uma conversa franca e necessária, o lendário ator Antonio Pitanga, aos 85 anos, não poupa palavras ao defender Manuela D'Ávila dos recentes questionamentos sobre sua identidade racial. Com a autoridade de quem viveu na pele décadas de lutas contra o racismo, o artista se posiciona com veemência sobre o tema.
Uma discussão que não deveria existir
"Claro que ela é negra, essa discussão é absurda", declara Pitanga, referindo-se à polêmica envolvendo a ex-deputada federal. Para o ator, questionar a negritude de alguém como Manuela representa um desserviço à luta antirracista.
Pitanga, que construiu uma carreira marcada pela representação positiva de personagens negros, enfatiza que "o racismo no Brasil sempre tentou dividir os negros", e que esse tipo de debate acaba por fortalecer essa estratégia histórica de fragmentação.
O peso da experiência
Com mais de seis décadas de carreira no cinema, teatro e televisão, Antonio Pitanga testemunhou as transformações - e permanências - do racismo na sociedade brasileira. Sua fala carrega o peso de quem viu de perto as diferentes formas como o preconceito racial se manifesta.
"Nunca vi tanta discussão sobre quem é negro ou não como agora", observa o ator, sugerindo que, em vez de avançarmos no combate ao racismo, estamos nos perdendo em debates que pouco contribuem para a causa.
Um recado para as novas gerações
Pitanga deixa um alerta importante: "Precisamos focar no verdadeiro inimigo, que é o racismo estrutural". Para ele, a energia gasta em questionar a identidade racial de pessoas como Manuela deveria ser direcionada para enfrentar as desigualdades raciais que ainda persistem no país.
O veterano ator finaliza com uma reflexão poderosa: "Quando um negro questiona a negritude do outro, está fazendo o jogo do racismo". Uma mensagem que ressoa como um chamado à união em um momento de tantas divisões.