Aos 88 anos, Roberto Menescal se mantém como o único criador vivo da Bossa Nova, movimento que transformou a música brasileira no início dos anos 1960. Cantor, compositor e produtor, ele é o convidado desta semana do programa da coluna GENTE, da VEJA, onde desfia memórias preciosas e fala sobre seu novo projeto, O Lado B da Bossa, em parceria com Cris Delano.
As origens: o apartamento de Nara Leão e o "Grupo Nossa Bossa"
Tudo começou em 1960, no Rio de Janeiro. Um grupo de jovens, incluindo Menescal, então com 18 anos, se reunia no apartamento de Nara Leão, na Avenida Atlântica, em Copacabana. "A gente não tinha noção de que estava fazendo coisa nova", recorda. As portas ficavam abertas, em um Rio de Janeiro de outro tempo, enquanto criavam músicas diante de uma vista deslumbrante para o mar.
A história ganhou seu nome quase por acaso. Ao serem convidados para se apresentar em uma casa de shows na Urca, se depararam com uma placa: "Grupo Nossa Bossa". Assim, sem querer, nascia a denominação de um dos maiores marcos musicais do país.
A revolução musical e as parcerias históricas
Menescal destaca a influência revolucionária de João Gilberto. "João mudou toda a cabeça da gente com seu violão", afirma. Ele contrasta o tom melancólico do samba-canção da época com o frescor trazido pela Bossa Nova, citando versos como "Se todos fossem iguais a você" como um sopro de otimismo. "Tiramos a gravata da música", brinca.
Em suas memórias, figuras como Tom Jobim e Vinicius de Moraes são presenças constantes. Ele também revela detalhes sobre sua atuação como produtor, como o trabalho que levou Emilio Santiago ao estrelato. Após anos vendendo poucos discos, o projeto Aquarela Brasileira, idealizado por Menescal, vendeu inicialmente 850 mil cópias e, posteriormente, atingiu a marca de 6 milhões de vendas.
O legado, o Japão e os 88 anos
Menescal acaba de voltar de uma turnê pelo Japão, país que, segundo ele, idolatra a música brasileira como nenhum outro. "Não tem no mundo quem goste mais de música brasileira do que o Japão", observa.
Aos 88 anos, o artista demonstra vitalidade e humor. "Toda idade é um marco, mas 88 anos é bonito. Os oitos são dois infinitos", filosofa. Ele também comenta as mudanças no mercado fonográfico, da era dos discos físicos para a digitalização, e se diz fascinado pela nova geração. "Eu tenho saudade do futuro", declara, mostrando-se aberto às novidades.
O programa semanal da coluna GENTE com Roberto Menescal está disponível no canal da VEJA no YouTube, no streaming VEJA+, na TV Samsung Plus e também em versão podcast no Spotify.