
O mundo do entretenimento, vez ou outra, é atingido por uma daquelas notícias que parece parar o tempo. Aquela dor surda no peito quando uma luz que brillhava com tanta força, de repente, se apaga. E quando essa luz pertence a alguém da comunidade LGBTQIA+, a sensação é de uma perda dupla: do artista e do símbolo de resistência.
Não é exagero dizer que o custo da fama, para muitos desses artistas, veio acompanhado de um fardo extra. A pressão de ser um espelho para tantos, de carregar bandeiras enquanto tenta equilibrar a própria humanidade – frágil e complexa como a de qualquer um de nós.
Vidas Interrompidas, Legados Eternos
Pense na força que era Leandro, metade da dupla com Léo. Nos anos 80, eles não eram apenas dois garotos bonitos cantando. Eram uma explosão de alegria, cor e, embora de forma mais sutil para a época, uma certa quebra de padrões. A notícia de sua partida, em 1998, foi um soco no estômago de uma geração inteira. A AIDS, na época ainda cercada de um estigma brutal, levou um ídolo e deixou uma lição de dor e de urgência por mais informação.
E como não se emocionar com a história de Rogéria? Um verdadeiro furacão de elegância, talento e coragem. Ela não apenas entrou no quarto, abriu a janela e gritou que estava lá. Ela construiu um palácio. Artista completa, atriz e estilista, desafiou a ditadura militar e conquistou o Brasil com seu humor e classe. Sua morte, em 2021, fechou um capítulo, mas sua luta pela dignidade das artistas trans permanece mais viva do que nunca.
O Preço da Visibilidade
Algumas partidas doem de um jeito diferente, justamente pela luta que simbolizavam. Liza Minnelli, ah, a Liza! Filha de Judy Garland, ela era praticamente a padroeira não oficial da cultura gay. Sua vida, um verdadeiro roteiro de cinema com altos e baixos dramáticos, era um espelho para quem também se sentia às margens. Um ícone de resiliência e de puro talento.
Já Glauco Mattoso, o poeta marginal, levou a poesia para lugares onde ela raramente ousava ir. Sua obra, crua e visceral, falava de desejo, marginalidade e a São Paulo que muitos preferiam ignorar. Perder uma voz como a dele é como perder um pedaço da memória afetiva da cidade.
Lembranças que não se Apagam
- Leandro (da dupla Léo & Leandro): O sorriso fácil que escondia uma batalha silenciosa.
- Rogéria: A diva que transformou o preconceito em arte pura.
- Liza Minnelli: A força bruta do palco que carregava as dores do mundo.
- Glauco Mattoso: O poeta que deu voz aos amores e desejos subterrâneos.
É curioso, não é? A gente acaba se apegando a essas figuras públicas como se as conhecesse pessoalmente. Talvez porque, de certa forma, a gente realmente conheça. Elas nos emprestaram seus talentos, suas dores e suas vitórias. E, no caso da comunidade LGBTQIA+, muitas vezes elas foram a primeira representação que tivemos de que era possível existir – e brillhar – sendo quem a gente é.
Por isso, a gente chora. Chora a música que não será mais composta, a performance que não será vista, o verso que não será escrito. Mas, acima de tudo, a gente celebra. Celebra a coragem de cada um deles, que, cada um à sua maneira, abriu caminho para que mais luzes pudessem brillhar, por mais tempo e com mais liberdade. O palco ficou mais vazio, mas o espetáculo que nos deixaram é eterno.