
O sol parecia hesitar no céu do Rio de Janeiro naquela manhã de quinta-feira, como se também não quisesse aceitar a despedida. O velório de Preta Gil, realizado no Teatro Municipal, foi um turbilhão de emoções — do riso ao pranto, das lembranças alegres aos abraços apertados.
Quem esteve lá garante: faltou ar, sobrou coração. Artistas, familiares e fãs se misturavam num vai-e-vem de histórias sussurradas e lágrimas não contidas. A filha, Maria, com um vestido branco simples (justamente como a mãe pedira), recebia cada um com um sorriso triste que doía na alma.
Os detalhes que ninguém contou
— Ela odiaria ver todo mundo de preto — riu baixo uma amiga próxima, enquanto ajustava o colar colorido que escolheu de propósito. E de fato, o ambiente tinha mais cores do que se espera num adeus. Girassóis, a flor preferida de Preta, tomavam conta do palco onde seu corpo repousava.
Do lado de fora, a cena era diferente. Uma fila que não acabava mais, gente comum com camisetas desbotadas e celulares na mão, todos querendo um último registro da artista que marcou gerações. Tinha senhora de 70 anos chorando feito criança, tinha jovem com o rosto pintado como ela usava nos shows — o Brasil real, em carne e osso.
O momento mais arrepiante
Por volta das 15h, quando o sol batia forte na fachada centenária do teatro, aconteceu o que ninguém vai esquecer. De repente, sem combinar, todo mundo começou a cantar "Sina", aquele sucesso antigo que virou hino. A voz da multidão subia, quebrava, continuava. Até os seguranças mais durões abaixaram a cabeça pra esconder o olho marejado.
E no meio disso tudo, uma cena peculiar: um senhor de chapéu de palha, provavelmente fã de longa data, dançando sozinho no canto. Sorrindo e girando devagar, como se estivesse num show particular pra ela. Quem viu, jurou que era o tipo de coisa que a própria Preta teria amado.
Quando a noite caiu e as últimas velas se apagaram, ficou a sensação estranha de que ela ainda estava ali, em cada risada contada, em cada música que alguém começava a cantarolar sem perceber. O Rio de Janeiro, cidade que ela tanto celebrou, soube fazer bonito na despedida.