
O Rio de Janeiro parou nesta quarta-feira para dizer adeus a uma de suas estrelas mais brilhantes. O velório de Preta Gil, realizado no Palácio da Cidade, em Botafogo, transformou-se num misto de celebração e luto — algo que ela mesma provavelmente aprovaria, com seu jeito único de enfrentar a vida.
Desde as primeiras horas da manhã, uma fila que mais parecia um rio humano serpenteava pelo bairro. Gente de todo tipo: jovens com camisetas estampadas com suas frases icônicas, senhoras que lembravam de seus tempos de "Xuxa Park", militantes carregando bandeiras do movimento negro. Até um senhor de 70 anos, todo engravatado, confessou ter chorado ao saber da notícia: "Ela fazia a gente rir até das próprias desgraças".
Um palco sem estrela
Dentro do palácio, as luzes baixas criavam um clima que nem um pouco funerário — mais parecia o backstage de um show prestes a começar. Flores em tons de roxo (sua cor preferida) disputavam espaço com fotos de todas as fases da artista: da menina cheia de cachos aos tempos de "Amor e Sexo", onde reinventou o debate sobre corpo e sexualidade na TV brasileira.
Gilberto Gil, pai de Preta, chegou por volta do meio-dia. O silêncio que se seguiu foi mais eloquente que qualquer discurso. Aos 81 anos, o eterno tropicalista parecia carregar nos ombros o peso de enterrar uma filha — algo que nenhum pai deveria conhecer. Mas, típico da família, transformou a dor em arte: pegou um violão emprestado e cantou "Aquele Abraço", música que marcou seu exílio nos anos 70. Dessa vez, era um abraço de despedida.
O legado que fica
- Mais de 1.200 pessoas passaram pelo local até as 18h
- Fãs deixaram cartazes com frases como "Obrigada por nos ensinar a ser gorda e feliz"
- Artistas como Taís Araújo e Lázaro Ramos compareceram
- Prefeitura declarou luto oficial de três dias
Lá fora, um grupo de jovens negras improvisou um coral. Cantavam "Andar com Fé", música que Preta gravou em 2014. Uma delas, estudante de direito chamada Luana, resumiu o sentimento geral: "Era nossa Beyoncé brasileira — mas acessível, de chinelo e sem filtro". E talvez seja essa a maior homenagem possível: lembrar não só a artista, mas a mulher que ousou ser feliz do seu jeito, custasse o que custasse.