
Quem diria que aquele jovem que enfrentava o sol escaldante nas ruas de São Paulo carregando uma caixa de doces um dia desfilaria para uma das marcas mais cobiçadas do planeta? Pois é — a vida prega dessas surpresas que parecem roteiro de filme, mas são pura realidade.
Anderson*, hoje com 28 anos, tem uma trajetória que desafia todas as probabilidades. Dos camelôs da Sé às passarelas milanesas, seu caminho foi pavimentado com suor, lágrimas e uma dose cavalar de determinação.
Os tempos difíceis
"Acordava às 4h, pegava três ônibus e chegava no centro com a caixa de balas pesando como concreto nos braços", lembra ele, com aquela voz que mistura orgulho e saudade do que deixou pra trás. Os R$15 por dia mal davam pro aluguel da quitinete que dividia com mais três pessoas.
O ponto de virada? Uma dessas coincidências que só o destino explica. Enquanto vendia seus doces na Paulista, um olho treinado — o do fotógrafo Marco Antônio — captou não a figura cansada, mas o rosto anguloso e a postura que gritavam "potencial".
O salto para o desconhecido
"Pensei que fosse golpe", ri Anderson ao recordar a abordagem. Mas algo naquele cartão de visitas amassado pelo suor da mão fez ele arriscar. Duas semanas depois, estava numa sessão de fotos improvisada num estacionamento — sim, a vida começa nos lugares mais inusitados.
- Primeiro book: 50 fotos tiradas com um celular
- Primeira agência: uma sala emprestada no Brás
- Primeiro desfile: um evento de moda alternativa na Lapa
E então... silêncio. Seis meses sem nenhum chamado. "Quase voltei pros doces", confessa. Mas eis que o e-mail chegou — em italiano mal traduzido pelo Google. A Armani procurava "rostos reais" para sua nova coleção.
Quando o mundo dá voltas
De São Paulo para Milão em 72 horas. "Parecia um sonho ruim e bom ao mesmo tempo", brinca ele sobre o jet lag e o choque cultural. A primeira prova de roupa? Uma camiseta que custava mais que seu aluguel de três meses.
"Naquele momento entendi: não importa de onde você vem, mas para onde está indo"
Hoje, entre desfiles em Paris e campanhas na Ásia, Anderson mantém os pés no chão — literalmente. Todo mês visita o mesmo ponto onde vendia doces, "só pra lembrar que a vida pode mudar num piscar de olhos".
As lições que as passarelas não ensinam
- Resiliência é músculo: treine todos os dias
- Oportunidades batem à porta — mas só quem está preparado escuta
- Sonhos grandes exigem calos nas mãos e leveza no coração
E o futuro? Anderson sorris enigmático: "Tô aprendendo a costurar. Quem sabe um dia minha grife ajude algum camelô a virar estilista?". A vida, como se vê, adora um final — ou melhor, recomeço — poético.
*Nome alterado a pedido do entrevistado