
Não é todo dia que se vê uma cidade inteira parar para celebrar um santo como se fosse da família. Mas em Mazagão Velho, no Amapá, essa é a cena que se repete há gerações durante as festividades de São Tiago. "Ele é nosso anjo da guarda, só que de espada e cavalo", brinca Maria do Carmo, 62 anos, enquanto ajusta a barraca de comidas típicas.
O clima? Uma mistura de romaria com festa de interior – daquelas que deixam saudade antes mesmo de acabar. Desde o amanhecer, o cheiro de maniçoba disputa espaço com o som das rabecas, enquanto crianças correm entre as barracas de artesanato feito de buriti.
Mais que tradição, devoção
Quem pensa que se trata apenas de um evento religioso está redondamente enganado. Aqui, a história do santo guerreiro se confunde com a própria identidade da comunidade. "Meu bisavô já contava que os antigos vinham a pé de outras vilas só para pedir proteção", revela o pescador Raimundo Nonato, 54, entre um gole de açaí e outro.
Os números impressionam:
- 3 dias de festa ininterrupta
- Mais de 15 mil romeiros em 2025
- 7 quilos de flores para enfeitar o andor
E não é só a fé que move montanhas por lá. A economia local dá um salto durante o período – os hotéis ficam lotados meses antes, e os artesãos chegam a triplicar as vendas. "É nosso Natal do meio do ano", define a comerciante Antônia Silva, enquanto embrulha lembrancinhas para turistas.
O ponto alto
Quando o andor de São Tiago percorre as ruas de terra batida, até os mais céticos se emocionam. A cena tem algo de mágico – centenas de vozes cantando em uníssono, velas tremulando no escuro, crianças nos ombros dos pais. Dona Francisca, 89 anos, resume: "Não sei explicar, mas quando ele passa, parece que o mundo fica mais leve."
E assim, entre rezas e festejos, Mazagão Velho mantém viva uma tradição que, mais do que religião, é pura poesia em movimento. Quem já foi garante: falta palavras para descrever. Sobram sentimentos.