Rock na Favela: Músicos de BH Quebram Estereótipos com Guitarradas e Atitude
Rock na favela: músicos de BH desafiam estereótipos

Num beco de terra batida, onde o cheiro de pão de queijo se mistura com o ronco de motos, um som inesperado corta o ar: o riff distorcido de uma guitarra. Não, você não está no Woodstock – isso é a Favela do São, em Belo Horizonte, e esses garotos estão reinventando o rock brasileiro a marteladas.

Do Barraco ao Palco

Eduardo, 23, ajusta o amplificador feito de sucata enquanto conta como trocou o funk ostentação por um violão surrado. "A galera achou que eu tava doido no começo", ri, lembrando das caras de espanto quando começou a tocar Nirvana no meio do baile. Hoje, seu quintal vira palco toda sexta – e a vizinhança pede bis.

O que começou como brincadeira virou movimento:

  • 15 bandas mapeadas só no aglomerado
  • Festivais "Do Morro pro Mundo" lotando praças
  • Workshops de luthieria com madeira de demolição

Contrafluxo Cultural

Enquanto o mainstream empurra certos estilos para a periferia, esses artistas fazem o caminho inverso – e com atitude. Mariana, baixista de 19 anos, solta: "Rock não é coisa de playboy, é grito de quem tá cansado de rótulo". Sua banda Asphalt Flowers já tocou em três estados com letras que misturam português, inglês e gírias do morro.

O segredo? Adaptação criativa:

  1. Batidas de pandeiro substituindo a bateria eletrônica
  2. Letras que falam de ônibus lotado e amor na quebrada
  3. Guitarras customizadas com tinta spray e adesivos de protesto

E funciona. Na última terça, um produtor independente apareceu sem avisar – agora quer levar três bandas para um festival na Lapa. "Isso aqui tá virando celeiro de talento", admira-se Dona Maria, 62, que vende café e pastel nos ensaios.