
O que você realmente sabe sobre punk? Se a resposta for "gritos, garrafas quebradas e caos", prepare-se para uma surpresa e tanto. Greg Graffin, frontman dos lendários Bad Religion, deixa claro: reduzir o movimento a isso é como dizer que um oceano é só um punhado de água salgada.
Numa conversa franca — daquelas que parecem um soco no estômago, mas do jeito bom — durante o The Town, ele e o guitarrista Brian Baker desmontaram preconceitos com a precisão de um relojoeiro. "O punk sempre foi sobre questionar, sobre não engolir qualquer coisa que te enfiem goela abaixo", disparou Graffin, com aquela calma que só os verdadeiros sábios possuem.
Muito Além dos Estereótipos: A Mensagem que Permanece
E não, isso não é papo de quem ficou confortável com a idade. Pelo contrário. É a constatação de que a energia crua dos anos 80 carregava uma semente de lucidez rara. Baker, que viveu a cena hardcore de Washington DC, lembra que mesmo no frenesi mais intenso, havia um propósito. "A gente viajava o mundo inteiro não para arrumar confusão, mas para espalhar uma ideia. Uma ideia de que você pode, e deve, pensar por conta própria."
E que ideia. Enquanto muitos gêneros musicais se contentam em falar de amores e desamores, o punk — o verdadeiro — cutuca a ferida social, política e humana. Sem medo. Sem pedir licença. É incômodo na dose certa.
O Palco como Púlpito de Questionamentos
O show dos Bad Religion no The Town não foi diferente. Foi uma aula. Uma catarse coletiva onde milhares de pessoas, de todas as idades, cantaram letras que desafiam o convencional. Graffin, também professor universitário, vê isso como a maior vitória. "Ver um adolescente e um senhor de 60 anos gritando as mesmas palavras sobre pensar criticamente... isso sim é poder."
E talvez aí esteja a verdadeira herança do punk. Não nos furos de safety pin ou nas jaquetas de couro, mas na coragem de permanecer cético. De fazer perguntas mesmo quando todo mundo só quer respostas fáceis. É uma mentalidade que não envelhece, não vende a alma e, definitivamente, não se importa se você aprova ou não.
No final das contas, quebrar uma garrafa é fácil. Difícil é quebrar um preconceito enraizado há décadas. E é nisso que os Bad Religion são verdadeiros mestres.