
Num cantão qualquer da zona leste de São Paulo, onde o asfalto esquenta sob o sol e o barulho da cidade é uma trilha sonora permanente, existe uma porta de entrada para outro tempo. É a Última Locadora de Vídeo da metrópole. Sim, você leu direito. Enquanto o mundo navega em algoritmos de streaming, esse lugar teima em respirar.
O dono, um sujeito que conhece cada fita, cada disco, como a palma da mão — se é que ainda usamos essa expressão — recebe os curiosos com um misto de orgulho e ceticismo. "Ainda tem gente que vem atrás daquilo que o algoritmo não mostra", diz ele, arrumando uma pilha de VHSs com capas desbotadas pelo sol.
As Relíquias que a Internet Não Tem
E que tesouros! Não é só filme blockbuster não. A gente tá falando de pérolas que sumiram do mapa. Tem desde documentários regionais que ninguém mais lembra — “Cotidiano Periférico”, 1998, alguém? — até fitas de camcorder com gravações de festas de família dos anos 90. É de emocionar, ou não?
- VHS com propagandas antigas: Aqueles jingles que grudavam na cabeça e você nem sabia por quê. A nostalgia bate forte aqui.
- Documentários independentes: Feitos por gente da quebrada, mostrando a quebrada. Histórias que a TV aberta nunca contou.
- Filmes estrangeiros obscuros: Coisa que nem a mais deep web dos streamings tem. Sério.
E o mais irônico? Muita gente jovem, que nem viveu a era da locadora, tá aparecendo por lá. Querem sentir o gosto de algo tangible, de escolher um filme pela capa — arriscado, sim — e não por uma sugestão de IA.
Não é Só Negócio, é Resistência
Pode parecer loucura manter um negócio desses em 2025. Mas pra quem tá por trás do balcão, a locadora virou ponto de encontro. Galera troca ideia, indica filme, discute diretor... é um clube social sem mensalidade. Um “reduto de humanidade”, como definiu um frequentador antigo.
E olha, a sobrevivência não é fácil. O aluguel pesa, a concorrência é desleal (como competir com gigantes bilionários?), e o público... bem, o público oscila. Mas enquanto der, ele segue ali. Um farol — meio desbotado, admitimos — de uma cultura que não quer morrer.
Quem diria, hein? Num mundo de instantaneidade, às vezes a gente precisa desacelerar. E nada como revirar uma prateleira empoeirada atrás de um tesouro esquecido.