
No Cemitério da Saudade, em Bauru, há um túmulo que chama a atenção não pelo luxo, mas pelo número que carrega: 1. Sim, o primeiro. E, como tudo que é pioneiro, ele esconde histórias que beiram o folclore — algumas tão antigas que já se confundem com a própria terra.
Quem passa por ali, entre cruzes e lápides desgastadas pelo tempo, dificilmente ignora aquele marco solitário. Alguns dizem que pertenceu a um escravo liberto; outros juram que foi um homem rico, mas de passado obscuro. A verdade? Nem os mais antigos funcionários do cemitério sabem ao certo — e talvez essa incerteza seja justamente o que alimenta o fascínio.
Entre fatos e boatos
Dona Marta, 78 anos, moradora do bairro há cinco décadas, lembra de ouvir na infância que o túmulo "assombrava" quem ousasse mexer com ele. "Minha avó falava que luzes apareciam à noite", conta, rindo, mas com um friozinho na voz. Já o historiador Carlos Ribeiro, autor de um livro sobre Bauru, desconstrói o mito: "Provavelmente era alguém importante na época da fundação do cemitério, em 1896. Mas registros se perderam...".
O que se sabe:
- O jazigo é de alvenaria simples, sem adornos — diferente dos mausoléus vizinhos
- Nenhum nome ou data é visível hoje, só o numeral desbotado
- Flores frescas aparecem esporadicamente, mas ninguém sabe quem as coloca
Turismo do inusitado
Nos últimos anos, o túmulo virou ponto de curiosidade. Adolescentes fazem selfies (com respeito, espera-se); visitantes deixam moedas — talvez um tributo ao desconhecido. "Já ouvi gente dizendo que é sorte tocar na pedra", comenta um vigia, que pede anonimato. "Prefiro não comentar muito... coisas antigas têm suas energias."
E você? Acredita que lugares guardam memórias — ou tudo não passa de imaginação coletiva? Seja como for, o túmulo 1 permanece ali: silencioso, enigmático, quase um personagem da própria cidade.