Muralha de Esculturas em SC: A Arte que Nasceu de um Sonho e Encanta o Brasil
Paredão de esculturas em SC: arte que encanta o Brasil

Quem passa pela pacata cidade de Orleans, no sul de Santa Catarina, dificilmente imagina que ali, escondido entre morros e vales, existe um tesouro artístico que parece saído de um conto de fadas. Não é exagero — um paredão de 60 metros de comprimento, totalmente esculpido à mão, conta histórias que vão muito além do mármore e do cinzel.

O Artista que Desafiou a Gravidade (e o Ceticismo)

Zé Adão — sim, esse é o nome dele, sem firulas — começou sozinho, em 1999, com um martelo, uma talhadeira e uma ideia fixa: "Quero esculpir Nossa Senhora na pedra". Os vizinhos riam. "Maluco", diziam. Vinte e cinco anos depois, o "maluco" transformou o sonho em 65 esculturas monumentais, incluindo santos, anjos e até uma cena da Última Ceia que faria Michelangelo coçar a barba.

"No começo, eu subia no morro com lanterna na boca pra trabalhar à noite", conta o artista, hoje com 72 anos, as mãos calejadas como mapa de estradas velhas. Aos pés do paredão, restos de ferramentas quebradas — testemunhas mudas de uma obstinação que não conhece a palavra "impossível".

Mais que Arte: Um Patrimônio Vivo

O que era para ser apenas uma homenagem religiosa virou acervo ao ar livre:

  • 14 estações da Via Sacra esculpidas em relevo
  • 3 metros de altura para a imagem central de Nossa Senhora
  • 7 anos só para concluir a fachada principal

Curiosidade? Nenhuma das figuras tem olhos vazados — "É pra deixar espaço pra fé completar", explica Zé Adão, num daqueles rasgos poéticos que só artistas de verdade conseguem.

Da Rejeição ao Cartão-Postal

No início, a prefeitura torcia o nariz. "Arte irregular", reclamavam. Hoje, o paredão:

  1. Atrai 3 mil visitantes por mês
  2. Aparece em roteiros internacionais de turismo religioso
  3. Inspira oficinas para jovens da região

E pensar que tudo começou com um pedreiro aposentado e sua teimosia criativa. Nas palavras de dona Marlene, dona da padaria mais próxima: "A gente achava que era doideira... Agora até o pão de queijo aqui vende mais por causa dos turistas".

Ah, a cereja do bolo? Zé Adão ainda não terminou. "Falta o anjo Gabriel no canto esquerdo", avisa, enquanto afia novas ferramentas. Parece que, em Orleans, os milagres — pelo menos os artísticos — ainda estão em obra.