Jaguar, Lenda do Humor Brasileiro, Parte aos 94 Anos: Um Silêncio que Ecoa na Cultura
Jaguar, ícone do humor brasileiro, morre aos 94 anos

O Brasil acordou mais silencioso, mais sem graça nesta terça-feira, 5. Aos 94 anos, partiu Sérgio Jaguaribe, ou simplesmente Jaguar, uma das figuras mais barulhentas — no bom sentido — do humor e do jornalismo nacional. Não foi uma partida qualquer; foi o fechamento de um capítulo inteiro da nossa história cultural.

Quem nunca deu uma risada (ou uma refletida) com um de seus cartuns afiados? Jaguar era daqueles raros artistas que conseguia, com alguns traços de nanquim e uma legenda esperta, cortar direto no cerne da hipocrisia. Seja durante a ditadura militar ou nos tempos mais recentes, sua pena era uma arma carregada de ironia e inteligência.

O Pasquim, né? Dá até arrepio de lembrar. Aquela publicação que era muito mais do que um jornal; era um território livre de pensamento, um reduto de resistência onde a galera se encontrava para falar tudo aquilo que não podia. E no centro da bagunça criativa estava Jaguar, ao lado de gigantes como Ziraldo, Millôr Fernandes e Henfil. Eles não apenas faziam piada; eles desafiavam um regime autoritário com a arma mais perigosa que existe: o riso.

Mais do que traços no papel

Dizer que Jaguar era apenas um cartunista é como dizer que o Maracanã é apenas um estádio. O homem era um fenômeno. Sua arte atravessou gerações, pulou das páginas dos jornais para os livros, para as paredes de bares, para a memória afetiva de milhões de brasileiros. Ele via o absurdo na política, no cotidiano, na vida, e devolvia pra gente em forma de humor.

E que humor! Ácido, às vezes. Subtil, em outras. Sempre preciso. Num país que vive à beira de um ataque de nervos, seu trabalho era — e ainda é — um remédio amargo, mas necessário.

O legado que fica

A causa da morte, sabe como é, foi essa coisa corriqueira e brutal chamada tempo. Uma pneumonia, complicações de uma vida longamente e intensamente vivida. Ele deixa a esposa, a produtora cultural Anna Jaguaribe, seus filhos, netos e… bem, deixa um país inteiro que aprendeu a rir de si mesmo com ele.

É estranho pensar que um dos símbolos máximos da resistência criativa se foi. Mas, cá entre nós, figuras como Jaguar nunca desaparecem de verdade. Elas se transformam em referência, em inspiração, em história. Cada vez que um cartunista pega num lápis para questionar o poder, um pedacinho dele estará ali.

O humor brasileiro perdeu seu patriarca. A imprensa, um dos seus pilares. E nós, leitores e admiradores, perdemos uma voz singular, que misturava o caos com a genialidade. Mas o riso, ah, o riso que ele provocou, esse fica. E ecoa. Para sempre.