
Quem diria? O mesmo gênio que desafiou a gravidade com seus "mais pesados que o ar" também deixou marcas profundas nas telas e esculturas do século XX. A Força Aérea Brasileira (FAB) acaba de presentear o público com um tesouro bibliográfico que mapeia — com riqueza de detalhes — como Alberto Santos Dumont se tornou musa inspiradora para pintores, gravuristas e até vanguardistas do concretismo.
Não é exagero dizer que o chapéu de palha e o bigode característico viraram ícones visuais muito antes das selfies. O livro, fruto de meticulosa pesquisa, revela desde caricaturas francesas do início do século até interpretações abstratas contemporâneas que transformam seus inventos em metáforas da liberdade humana.
Um herói com pinceladas
O que mais impressiona — e aqui confesso meu espanto — é descobrir como artistas plásticos brasileiros e estrangeiros absorveram não só sua imagem, mas o próprio espírito inovador do inventor. Nas páginas, desfilam obras onde:
- O 14-Bis dança como um balé cubista
- As hélices se dissolvem em traços expressionistas
- Até o relógio de pulso (outra invenção dumontiana) vira símbolo do tempo moderno
"Ele representava o futuro", analisa um dos curadores da publicação, enquanto folheio reproduções que misturam técnica aeronáutica com estética. Dá pra sentir o cheiro de tinta a óleo e gasolina de avião...
Para além dos céus
O lançamento acontecerá no Museu Aeroespacial do Rio — porque combinaria? — com direito a mostra paralela de peças raras. Entre os destaques, uma série inédita de litografias dos anos 1920 que retratam Santos Dumont como "o alquimista dos ares", envolto numa aura quase mística.
E tem mais: o volume traz depoimentos de artistas vivos que confessam como o inventor mineiro ainda hoje provoca revoluções nos ateliês. Um deles, meio sem querer, soltou: "Quando traço uma linha no papel, às vezes sinto que estou desenhando asas". Poético, não?