Adeus a um Gênio do Lápis: Jaguar, Lenda dos Quadrinhos Brasileiros, Parte aos 93 Anos
Cartunista Jaguar, lenda do jornalismo, morre aos 93 anos

Uma página virada. Uma caneta que finalmente descansou. O Rio de Janeiro — e o Brasil — acordaram mais cinzentos nesta manhã de domingo, 24 de agosto, com a notícia que ninguém queria ler: Sérgio Jaguaribe, simplesmente Jaguar para todos nós, partiu. Tinha 93 anos bem vividos, cada um deles rabiscado com o humor ácido e a inteligência ferina que só ele possuía.

O coração — aquele mesmo que bombeava tinta e ideias por décadas — parou de bater por volta das 9h da manhã, no Hospital Samaritano, em Botafogo. A causa? Uma infecção generalizada, um adversário forte demais até para um lutador como ele. A informação, confirmada com um suspiro pesado pela família, ecoou primeiro entre amigos e colegas, deixando um vazio que nenhuma charge poderá preencher.

E que trajeto, hein? Jaguar não era apenas um desenhista; era uma instituição. Uma das mentes por trás d'O Pasquim, aquele tabloide lendário que ousou rir da ditadura quando rir era um ato de coragem. Suas charges no Jornal do Brasil eram mais do que desenhos; eram comentários políticos afiados, sermões cômicos, lições de cidadania disfarçadas de riso. Ele não seguia a corrente — ele a eletrocutava com seu humor único.

Quem o conhecia de perto dizia que o homem por trás dos óculos e do bigode era tão complexo quanto suas artes. Um sujeito de opiniões fortes, sim, mas também de uma lealdade inquebrantável aos amigos. Tinha um jeito rabugento que escondia — mal — um coração enorme. Um contador de histórias nato, sempre com uma anedota na ponta da língua, geralmente acompanhada daquela risada gutural que era sua marca registrada.

O que fica? Ora, tudo. Seu legado não está apenas nos arquivos de jornal ou nos livros de história da arte. Está na maneira como uma geração inteira aprendeu a enxergar a política, a questionar o poder, a não levar os poderosos tão a sério. Ele mostrou que um lápis pode ser mais perigoso — e mais eficaz — que uma espada.

O velório será discreto, para familiares e amigos próximos, no Cemitério Memorial do Carmo, no Caju. O corpo será cremado, como era seu desejo. Uma despedida simples para um homem que nunca gostou de pompas.

O silêncio agora é enorme. Mas, se prestarmos atenção, ainda dá para ouvir o leve ruído de sua caneta sobre o papel, ecoando pela história do jornalismo nacional. Descanse em paz, mestre. E obrigado por todas as risadas.