Aos 93 anos, morre Jaguar, lendário cartunista e um dos pilares do Pasquim
Aos 93 anos, morre Jaguar, cartunista do Pasquim

O cenário cultural brasileiro ficou mais pobre nesta quarta-feira. E olha que a gente já estava meio desfalcado, não é mesmo? Aos 93 anos, partiu Jaguar — não o felino, claro, mas o homem de traços afiados que ajudou a desenhar a história do país.

Sérgio Jaguaribe, para os íntimos — e para a certidão de nascimento — deixa uma lacuna que vai do riso à reflexão. Morreu no Rio, sua cidade adotiva (nasceu em São Paulo, mas quem é que vai ficar contando?), cercado pela família. Causa? Ainda não divulgada, mas aos 93 anos, a gente até imagina que o corpo simplesmente disse "chega".

Ah, o Pasquim... Quem viveu aquela época sabe. Não era só um jornal — era um furacão de irreverência num país que engatinhava sob botas militares. E no olho desse furacão estava Jaguar, ao lado de gigantes como Millôr Fernandes, Ziraldo e Henfil. O jornal que ousou rir quando rir era perigoso.

Seus traços? Afiados como lâmina. Seu humor? Ácido como limão galego. Mas por trás dos cartoons que furaram a censura, havia uma gentileza rara. Quem o conheceu pessoalmente garante: o homem era tão generoso quanto seu traço era mordaz.

Prêmios? Teve aos montes — e bem merecidos. Prêmio Angelo Agostini (1997), Prêmio HQ Mix (2010)... Mas duvido que ele se importasse muito com troféus. O que realmente valia era ver o leitor dar aquela risada contida — ou talvez escandalosa — ao virar a página.

E pensar que começou no Diário Carioca nos anos 50, depois Jornal do Brasil, O Globo... Fez história em todos. Mas foi no Pasquim que sua voz — ou melhor, sua pena — encontrou seu verdadeiro eco.

O Brasil perde um titã do traço. O jornalismo perde um mestre da sátira. E a gente perde aquele que nos lembrava que, mesmo nos tempos mais sombrios, sempre há espaço para uma boa gargalhada — mesmo que seja pela culatra.

Descanse em paz, mestre. E obrigado por todas as risadas.