
Elas moldam barro, trançam palha, transformam sementes em joias. E, enquanto criam, também resistem. No Amapá, um grupo de mulheres artesãs — muitas delas invisibilizadas por anos — está prestes a ganhar as páginas de uma revista nacional. Não é pouco para quem, até pouco tempo atrás, nem sequer era chamada pelo nome, apenas "as senhoras que fazem aquelas coisinhas de fibra".
O artigo, produzido por pesquisadores locais, mergulha fundo nesse universo. E olha, não é só sobre técnicas manuais. É sobre memória, sobrevivência e, claro, muita luta. "A gente não quer só vender, quer que entendam que isso aqui é história", diz uma das artesãs entrevistadas, enquanto mostra um colar feito de tucumã — semente que, pra ela, vale mais que ouro.
Da feira livre para as páginas da academia
Quem passa correndo pela feira do bairro nem imagina. Aquelas bolsas de buriti, os brincos de sementes de açaí, cada peça carrega um pedaço da Amazônia. E agora, finalmente, alguém parou pra escutar as histórias por trás delas.
O estudo — que vai ser publicado num dos principais periódicos do país — mapeou por meses o trabalho dessas mulheres. Descobriu coisas que nenhum turista vê: como a artesã que acorda às 4h pra buscar matéria-prima antes do sol rachar, ou a avó que ensina as netas a tecer enquanto conta causos da região.
"Isso não é hobby, é nosso sustento"
Uma das partes mais contundentes do artigo? Quando desmonta a ideia de que artesanato é "passatempo". Tem dados que doem: 78% das entrevistadas são chefes de família, 62% já ouviram que "fazem biscate". "No dia que eu paguei a faculdade do meu filho com minhas panelas de barro, chorei igual criança", relata Dona Maria, 54 anos, três décadas de profissão.
E tem mais — o texto mostra como essas mulheres estão reinventando a tradição. Já viram uma pulseira de macramê com fios de rede de pesca reciclada? Pois é, sustentabilidade virou palavra de ordem no grupo. "A floresta dá a matéria, a gente devolve com cuidado", explica uma das jovens artesãs que está misturando técnicas ancestrais com designs modernos.
Pra quem acha que pesquisa acadêmica é coisa distante, eis a prova do contrário. Quando a revista chegar às bancas — previsto para setembro — vai ter um pedacinho do Amapá feito não só de fibras e tintas, mas de histórias que, finalmente, estão sendo contadas.