
Era uma daquelas situações que todo sitiante teme: galinhas desaparecendo misteriosamente durante a noite, sem deixar rastro — apenas algumas penas espalhadas pelo chão. O aposentado João da Silva, de 68 anos, notou que seu galinheiro estava sofrendo ataques recorrentes há quase três semanas. "No começo, pensei que fosse algum cachorro ou gambá", contou ele, ainda surpreso. "Mas as marcas no chão eram grandes demais para ser qualquer animal comum."
A suspeita se confirmou na madrugada de quarta-feira, quando o silêncio da noite foi quebrado por um barulho metálico vindo do fundo do terreno. Era a armadilha caseira — uma gaiola reforçada com isca de frango — que finalmente havia funcionado.
O encontro inesperado
Ao acender as luzes, João se deparou com uma cena digna de documentário: dentro da gaiola, uma onça-parda adulta, com aproximadamente 35 quilos, observava atentamente cada movimento. O animal, embora assustado, mantinha uma postura majestosa — longe de demonstrar agressividade.
"Fiquei com um misto de medo e admiração", admitiu o aposentado. "Por um lado, era um predador perigoso; por outro, uma criatura simplesmente magnífica."
Ação rápida das autoridades
Imediatamente após a captura, a Defesa Civil de Piracicaba e a Polícia Ambiental foram acionadas. Chegaram ao local por volta das 6h da manhã, preparados para lidar com a situação. O que encontraram, no entanto, foi uma cena incomum: a onça visivelmente calma, quase como se soubesse que não seria machucada.
Os profissionais utilizaram dardos tranquilizantes para sedar o animal com segurança — protocolo padrão nesses casos. "Ela estava bem, apenas assustada", explicou um dos agentes ambientais que participou do resgate. "É impressionante como esses animais selvagens estão se aproximando cada vez mais das áreas urbanas."
Para onde vai a onça?
p>Após a captura bem-sucedida, o felino foi levado para o Centro de Medicina e Pesquisa de Animais Silvestres (CEMPAS), na UNESP de Botucatu. Lá, passará por avaliação veterinária completa antes de ser reintroduzido à natureza — preferencialmente em uma área de preservação distante de zonas habitadas.Especialistas acreditam que a expansão urbana e a diminuição de habitats naturais têm forçado esses animais a procurar alimento em propriedades rurais. "Não é agressividade, é sobrevivência", resumiu o biólogo responsável pelo caso.
João, por sua vez, já está reconstruindo o galinheiro — agora com reforços extras. "Perdi algumas galinhas, mas ganhei uma história para contar pelo resto da vida", riu ele, mostrando o vídeo que já circula entre vizinhos e familiares.