Dor de perder um pet: como a psicanálise está ajudando a curar esse luto profundo
Luto por pets: como a psicanálise está ajudando

Quem já perdeu um bichinho de estimação sabe: a dor é real, profunda e, muitas vezes, incompreendida. Não é "só um animal" — é um membro da família que se vai. E, finalmente, a psicanálise está começando a levar a sério esse tipo de sofrimento.

O vazio que late e mia

Você chega em casa e não tem mais aquela festa na porta. O sofá fica estranhamente arrumado. Até a tigela vazia no cantinho dói. "É impressionante como esses pequenos rituais diários fazem falta", comenta a psicanalista Marina Rocha, que atende casos do tipo há uma década. Segundo ela, muitos pacientes demoram até anos para superar a perda — quando superam.

E não é exagero. Um estudo da Universidade Harvard mostrou que 60% dos donos de pets apresentam sintomas de luto comparáveis à perda de um parente humano. Mas, cá entre nós, quem já passou por isso sabe que às vezes a comparação nem faz sentido — cada dor é única.

Por que dói tanto?

  • Vínculo incondicional: diferente de relações humanas complicadas, com pets é puro amor sem julgamentos
  • Testemunha da sua vida: muitos animais acompanham fases importantes — formaturas, casamentos, filhos...
  • Cotidiano compartilhado: desde o café da manhã até aquela posição específica na cama que só eles sabiam ocupar

"Tive um paciente que não conseguiu voltar a cozinhar por meses porque o gato dele sempre ficava na bancada 'ajudando'", relata o psicólogo Carlos Mendes. "São essas pequenas ausências que mais machucam."

O tabu do luto animal

Aqui está o problema: muita gente ainda acha que "é frescura". Frases como "compra outro" ou "era só um cachorro" podem causar ainda mais dor. "É um luto não reconhecido socialmente", explica a terapeuta Ana Lúcia Barros. "As pessoas se sentem constrangidas de demonstrar tristeza."

Mas as coisas estão mudando. Clínicas veterinárias já oferecem plantões psicológicos para eutanásias. Alguns planos de saúde começam a cobrir terapia por luto pet. Até grupos de apoio específicos estão surgindo — tanto online quanto presenciais.

Como lidar?

  1. Permita-se sentir: não minimize sua dor. Ela é válida.
  2. Crie um ritual: enterro, fotos, memorial — o que fizer sentido para você.
  3. Fale sobre isso: com quem entender, nem que seja um terapeuta.
  4. Dê tempo ao tempo: não existe prazo para superar.

E aquele mito de que "adotar outro ajuda"? Depende. Para alguns, sim. Para outros, parece uma traição. "Cada um tem seu tempo", diz Marina. "Conheço casos que levaram 8 meses até olhar outro animal, e outros que adotaram em uma semana — ambos estão certos."

No fim, o importante é entender: chorar um pet não é fraqueza. É humanidade. E, finalmente, a ciência está começando a enxergar isso com os olhos — e o coração — abertos.