
Imagine sair do plantão, exausto, e quase virar alvo de balas perdidas — ou nem tão perdidas assim. Foi o que aconteceu com um casal de médicos na noite de quinta-feira (17), na Avenida Brasil, Rio. O que deveria ser uma simples abordagem de rotina virou pesadelo: tiros disparados pela própria Polícia Militar.
"Parecia filme de ação, só que sem roteiro e com a gente no meio", desabafa um dos médicos, que preferiu não se identificar. O carro deles — um sedan comum, sem qualquer característica suspeita — foi atingido por pelo menos três projéteis. Vidros estilhaçados, bancos perfurados. Sorte? Ninguém se feriu. Mas o trauma, ah, esse ficou.
"Atiraram primeiro, perguntaram depois"
Segundo o relato do casal, os PMs não deram qualquer aviso antes de abrir fogo. "Ouvi os estampidos e só consegui pensar: 'é assim que vamos morrer?'", conta a médica, ainda tremendo ao lembrar. A dupla alega que os policiais justificaram a ação com "suspeita de porte ilegal" — algo que, comprovado depois, não passava de um termômetro digital no banco de trás.
E o Rio, como sempre, segue seu script:
- Abordagens truculentas que viram notícia (de novo)
- Vítimas que poderiam ser qualquer um de nós
- E zero accountability dos envolvidos
A PM, por sua vez, soltou aquele comunicado padrão — sabe como é — prometendo "apurar os fatos". Enquanto isso, o casal tenta dormir com a luz acesa e o som de motores na rua já é suficiente para acelerar os batimentos.
E agora?
O caso foi parar na 34ª DP (Campo Grande), mas a sensação é de déjà vu. Quantos "erros" desses ainda vão rolar antes de alguém segurar a onda? Os médicos, entre plantões e processos, agora carregam um novo diagnóstico: estresse pós-traumático sem cura à vista.