
Era para ser mais uma noite comum. O marceneiro — vamos chamá-lo de João, porque nomes humanizam — saía do batente, cansado, com as mãos calejadas de tanto trabalhar. Parelheiros, zona sul de São Paulo, 21h30 de uma quarta-feira qualquer. Até que um tiro cortou o silêncio. E a vida dele.
Quem disparou? Um PM. Sim, aquele que deveria proteger. O que aconteceu depois foi o de sempre: sirenes, fita amarela, burocracia da morte. Só que desta vez, a versão oficial não colou. As câmeras de segurança — ah, essas testemunhas silenciosas — mostraram outra história.
"Ele levantou as mãos", diz testemunha
Duas coisas me assustam nesse caso. Primeiro: o policial alegou legítima defesa. Segundo: as imagens mostram o marceneiro de mãos vazias e erguidas. "Parecia um boneco de posto", me contou um morador que prefere não se identificar — medo, você entende, né?
O delegado responsável pelo caso — um sujeito que já vi em outras ocasiões — não conseguiu engolir a versão do PM. "Tem cheiro de mentira", disse entre os dentes. Resultado? O policial foi preso em flagrante por homicídio qualificado. Justiça? Bom, isso a gente vê depois.
Os números que doem
- 3º batalhão da PM envolvido
- 47 tiros disparados na região só este mês
- 1 família destruída
Enquanto isso, na sede da PM, aquele discurso ensaiado: "investigação interna", "apuração rigorosa". Você já ouviu isso antes, não é mesmo? Parece até playback.
O que me deixa puto da vida — desculpe o termo — é que o marceneiro tinha planos. Um deles? Comprar uma bicicleta nova para o filho fazer entregas. Ironia cruel: morreu a pé.
E assim seguimos. Mais um nome na lista. Mais uma vela acesa na favela. Mais um caso que, se não fosse pelas câmeras, viraria só estatística. Até quando?