
Não foi fácil segurar as lágrimas. Sentada na sala de estar da casa simples na Baixada Fluminense, a jovem de 22 anos — que prefere não ter o nome divulgado — conta como o mundo desabou naquela terça-feira. "A gente tava planejando o casamento pra dezembro...", diz, enquanto segura com força a foto do noivo. Oruam, 19 anos, foi mais um nome na lista de vítimas de operações policiais no Rio.
Segundo relatos, o rapaz — que trabalhava como ajudante de pedreiro — teria sido abordado por agentes durante uma blitz na Pavuna. "Ele só foi comprar pão, meu Deus do céu!", dispara a noiva, com a voz embargada. Detalhe? O celular dele, encontrado no local, mostrava mensagens trocadas com ela minutos antes: "Volto já, amor".
O que diz a versão oficial
A Polícia Militar, por sua vez, alega que houve troca de tiros após "reação violenta" de suspeitos. Um revólver teria sido apreendido próximo ao corpo. Mas a família contesta: "Oruam nunca mexeu com armas. Tá vendo essa foto? Era fã de Pokémon Go, pelo amor de Deus!", rebate a irmã mais velha.
O caso reacendeu o debate sobre:
- Protocolos de abordagem em comunidades
- O aumento de 23% em operações letais no estado (dados do ISP)
- A demora na liberação de laudos periciais
E agora?
Enquanto isso, a noiva — grávida de três meses — tenta entender como seguirá a vida. "Tô juntando dinheiro pra enterro digno. Cadê os direitos que eles tanto falam?". A Defensoria Pública já entrou com ação pedindo indenização e apuração rigorosa. Mas, como diz o ditado: justiça tardia... você completa.
PS: No mural da casa, uma camisa do Flamengo — time do coração de Oruam — está pendurada como relicário. "Ele prometeu que íamos ao Maracanã depois do casamento...", sussurra, limpando o pó do ombro da camisa número 12.