
Era pra ser mais uma entrega rotineira de comida. O que ninguém — muito menos o motoboy — esperava era que uma simples recusa em subir até o apartamento resultaria num disparo de arma de fogo. Aconteceu na noite de quinta-feira (29), no bairro Jardim da Penha, em Vitória, e a história é, no mínimo, de arrepiar.
Segundo testemunhas e o boletim de ocorrência, o entregador, cujo nome não foi divulgado, chegou ao condomínio para entregar um pedido. O destinatário? Um policial militar. Mas aí que a coisa degringolou: o profissional — que já estava no local de trabalho dele, lembre-se — teria se negado a subir até o andar do apartamento. Normal, né? Afinal, a entrega em porta de prédio é prática comum.
Só que o cliente, inconformado com a negativa, não aceitou o não como resposta. A discussão começou branda, mas escalou rápido. Muito rápido. O PM, visivelmente irritado, efetuou um disparo contra o motoboy. Sim, você leu certo: atirou. No peito. Em plena área comum do condomínio.
«Ele atirou como se fosse nada», relata morador
Um vizinho, que preferiu não se identificar, contou que ouviu o barulho da discussão e depois o estampido. «Foi seco, alto. A gente pensou que era rojão, até ver a confusão lá embaixo». O motoboy, ainda consciente, foi socorrido e levado às pressas para o Hospital Santa Rita de Cássia. Passou por cirurgia e, pasme, está estável. Teve sorte, muita sorte.
O policial envolvido foi preso em flagrante no local. Às pressas, a PMES emitiu uma nota dizendo que «repudia veementemente actos de violência» e que o militar responderá administrativa e criminalmente. Mas a pergunta que fica é: até quando? Até quando abusos assim vão acontecer antes de uma revisão profunda na formação e no controle desses profissionais?
Não é o primeiro caso, e dificilmente será o último
O que mais assusta nessas horas é a sensação de que a farda às vezes vende uma autoridade que extrapola a lei. O cara era um trabalhador, tentando cumprir com seu serviço. Recusou-se a subir — um direito dele, ora! — e quase pagou com a vida. É de gelar o sangue.
Enquanto o motoboy se recupera — física e emocionalmente —, o PM aguarda a apuração do caso. A delegacia de Homicídios de Vitória assumiu a investigação. Vamos acompanhar. Torcer para que a justiça seja feita. E refletir: que sociedade é essa em que uma discussão por uma entrega de comida termina com um tiro no peito?