
Eis que a violência que assombra São Paulo tece suas conexões mais sinistras. O ex-delegado Luís Alberto de Almeida, executado a tiros na última terça-feira em plena luz do dia, havia tomado uma decisão que agora ecoa como um trovão: ordenou a retirada do distintivo e da arma do investigador Bruno Henrique da Cunha.
E não foi por qualquer motivo trivial. A medida drástica veio após Da Cunha soltar uma verdade nua e crua sobre a corporação — falou em "ratos na polícia", referindo-se àqueles que se alimentam da podridão da corrupção.
O timing? Assustadoramente sugestivo.
Agora, com Almeida morto — quatro tiros, execution style —, a pergunta que paira no ar é mais pesada que chumbo: haveria ligação entre a punição aplicada e o assassinato brutal?
Um desabafo que custou caro
Tudo começou com uma fala incendiária durante uma operação policial. Da Cunha, cansado da velha conhecida maracutaia interna, disparou contra a cultura do silêncio. "Tem rato dentro da própria polícia", soltou, sem meias palavras.
Pouco depois, veio a represália. Almeida, então na chefia, chamou o investigador e deu a ordem: distintivo e arma recolhidos. Um castigo que, no universo policial, soa como uma humilhação pública.
— Foi uma tentativa clara de calar uma voz incômoda — comenta um colega que preferiu não se identificar, é claro.
O assassinato que mudou tudo
E então, o inevitável aconteceu. Na saída de um condomínio em São Vicente, Almeida foi surpreendido. Quatro disparos certeiros, nada de assalto — execution pura. A cena foi daquelas que ficam na memória: um carro branco fugindo, e um silêncio que fala mais que gritos.
A Polícia Civil, é claro, nega qualquer ligação direta entre os fatos. Dizem que investigam "todas as linhas", mas todo mundo sabe como essas coisas funcionam. O clima nas delegacias da Baixada Santista está tenso, daqueles que você sente na nuca.
Será que alguém estava mandando um recado? A pergunta fica no ar, intoxicando cada corredor.
O que dizem as fontes
Conversamos com alguns policiais que ainda têm coragem de falar — sob anonimato, naturalmente. A versão deles? Que Almeida era "linha-dura" e que mexeu em vespeiro. "Quando você cutuca a onça com vara curta, sabe no que dá", resumiu um deles, com a filosofia crua que só o front proporciona.
Já Da Cunha, o investigador punido, permanece em silêncio. Recebeu orientação para não comentar — e quem pode culpá-lo? Afinal, sobrevivência às vezes significa ficar quieto.
O caso agora está nas mãos do DEIC, o departamento de investigações especiais. Eles prometem apurar tudo, mas nas ruas a desconfiança reina. Afinal, investigar a própria corporação sempre foi um terreno pantanoso.
Uma coisa é certa: a execução de Almeida jogou gasolina em um fogo que já queimava em banho-maria. E São Paulo, mais uma vez, se pergunta até onde vai a podridão que deveria combatê-la.