
Imagine a cena: você está caído no chão, sangrando após levar um tiro, e instead de ajuda, recebe uma notificação tentando cancelar seu pedido de trabalho. Pois é, essa foi a realidade absurda que vivou Carlos Eduardo, um entregador de 32 anos, na Zona Norte do Rio.
O caso – que mais parece roteiro de filme distópico – aconteceu na noite de domingo, mas o gosto amargo da injustiça ainda permanece. Tudo começou com uma confusãozinha besta, daquelas que escalam rápido demais. O agente penitenciário, de folga e armado, não gostou de algo trivial no fluxo do trânsito. Discussão vai, discussão vem... e pow! Disparo.
E aí, no auge do desespero, com a vida escorrendo por entre os dedos, o celular do entregador vibra. Não era um socorro. Era o aplicativo. Alguém – provavelmente o próprio atirador – tentando cancelar a entrega através da plataforma. "Estou aqui sangrando e você tentando cancelar o pedido?", pensou Carlos, entre a dor e a incredulidade.
O que se passa na cabeça de uma pessoa num momento desses?
O socorro, thank God, acabou vindo. Populares que presenciaram a cena surreale intervieram. Levaram Carlos para o Hospital Municipal Salgado Filho, onde ele segue internado – estável, mas com um longo recovery pela frente. O delegado Fábio Luiz, da 22ª DP (Campo Grande), assumiu o caso e já adiantou: a arma do crime foi apreendida. O agente penitenciário, é claro, foi levado para a delegacia. A moto do entregador? Também apreendida para perícia.
O mais revoltante nessa história toda – além do óbvio – é a frieza. A prioridade de tentar resolver uma burocracia de aplicativo enquanto um homem jaz ferido. Isso diz muito sobre certas dinâmicas doentias do nosso tempo, não acha?
A Secretaria de Administração Penitenciária (SEAP) já se manifestou, dizendo que o agente envolvido será devidamente apurado e punido nos termos da lei. Mas Carlos, coitado, agora enfrenta dois battles: o físico, da recuperação, e o psicológico, de processar tamanha falta de humanidade.
O Rio, mais uma vez, mostra suas contradições mais cruéis. Uma cidade de beleza inigualável, mas que pode ser dura, muito dura, com seus trabalhadores. O caso corre em segredo de justiça, mas a comoção – e a revolta – estão escancaradas nas redes e nas ruas.