Escândalo em SP: 14 PMs da ROTA vão a júri por execução de suspeitos desarmados com 16 tiros
14 PMs da ROTA vão a júri por execução em SP

O que acontece quando aqueles que deveriam proteger viram algoz? A pergunta, incômoda como um calo no pé, ressoa no Tribunal de Justiça de São Paulo. Catorze policiais militares do batalhão de elite ROTA (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar) terão que sentar no banco dos réus. A acusação? Execução sumária. E olha que o caso é pesado.

Tudo remonta a uma noite qualquer de 2019, na Zona Leste da capital. Dois homens – Édson do Nascimento Silva e José Carlos Alves dos Santos – dentro de um carro. Desarmados. A versão oficial dos PMs sempre foi de confronto. Mas aí é que a coisa complica: os peritos encontraram 16 marcas de tiros nos corpos. A balística, essa testemunha silenciosa e implacável, não mente.

O Ministério Público não comprou a história da troca de tiros. Pelo contrário. A promotoria fala em "emboscada", em "simulação de resistência seguida de execução". São acusações graves, do tipo que mancha farda e entorta a moral de uma corporação inteira. Os delegados que investigaram o caso foram taxativos: não havia arma nenhuma com os dois homens. Zero.

O Longo Caminho até o Júri

O processo judicial foi uma verdadeira maratona. E não das fáceis. Os advogados de defesa tentaram de tudo – impugnação, recursos, mais recursos. Queriam jogar a prova técnica fora, alegando vício. O juiz José Henrique Rodrigues Torres, da 2ª Vara do Júri, deu uma olhada em tudo e foi enfático: não há nada que invalide o laudo. A perícia ficou.

E assim, depois de cinco anos de idas e vindas, a data finalmente foi marcada. O julgamento por júri popular está agendado para o próximo dia 3 de outubro. Quatorze policiais, catorze destinos, um único tribunal para decidir. Será que a população, representada pelos sete jurados, vai acreditar na versão dos PMs ou vai seguir a tese acusatória?

O caso é emblemático por um motivo simples: mexe com o nervo exposto da violência policial e da cultura do auto de resistência. Aquele velho hábito de registrar mortes como "resistência seguida de morte" para, supostamente, mascarar execuções. A sociedade está de olho. A mídia está de olho. E agora, a Justiça também.

O que Esperar do Julgamento?

Vai ser um circo? Provavelmente. Um julgamento de PMs da ROTA nunca é algo simples. Vai ter protesto, vai ter defesa ferrenha, vai ter comoção. Os familiares das vítimas esperam por justiça há meio decênio. Os policiais, por sua vez, devem jurar que agiram em legítima defesa. O palco está armado para um daqueles dramas judiciais que viram série da Netflix.

Uma coisa é certa: o resultado desse júri vai ecoar muito além das paredes do fórum. Vai servir de termômetro para como a Justiça lida com abusos de autoridade. E, talvez mais importante, vai mandar um recado claro para toda a corporação: impunidade tem prazo de validade.