Mulher usa código secreto ao pedir dipirona para denunciar violência doméstica em MS
Vítima usa código secreto para denunciar violência doméstica

Era uma terça-feira comum em Dourados quando os policiais receberam uma ligação aparentemente banal. "Preciso de dipirona", disse a voz feminina no telefone. Mas algo naquele pedido soava estranho — a fala trêmula, o tom mais baixo que o normal, como quem fala com medo de ser ouvida.

Os agentes, treinados para reconhecer sinais ocultos, perceberam imediatamente: era um pedido de socorro disfarçado. A vítima, sob ameaça do companheiro, usou o remédio como senha para denunciar a violência que sofria.

O desenrolar do caso

Ao chegarem no endereço fornecido, os PMs encontraram uma cena que infelizmente se repete demais no Brasil: uma mulher assustada, marcas de agressão e um agressor que tentou se fazer de vítima. "Ele disse que eu tinha caído da escada", contou a moradora, de 34 anos, com aquela voz que quem já presenciou situações assim reconhece na hora — meio engasgada, meio desafinada pelo choro contido.

O que chama atenção:

  • A criatividade da vítima para burlar a vigilância do agressor
  • O treinamento diferenciado da equipe policial que captou a mensagem cifrada
  • A persistência do ciclo de violência mesmo durante a pandemia

Números que doem

Enquanto isso, os dados do estado mostram um aumento de 22% nas ocorrências desse tipo só no primeiro trimestre. E olha que muita gente nem chega a denunciar, seja por medo, dependência financeira ou aquela esperança furada de que "dessa vez vai mudar".

Psicólogos ouvidos pelo caso explicam que estratégias como a usada pela moradora de Dourados são comuns — algumas vítimas combinam frases específicas com farmacêuticos, vizinhos ou até entregadores de comida. "É a violência fazendo as vítimas criarem seus próprios códigos morse domésticos", comenta uma assistente social.

O ex-companheiro foi preso em flagrante (pra variar, alegou que foi "só uma discussão") e a mulher recebeu medidas protetivas. Mas a história deixa aquela pulga atrás da orelha: quantos pedidos de ajuda disfarçados passam despercebidos por aí?