
Ela estava encurralada, com o agressor do outro lado da porta. O celular tremia nas mãos — qualquer barulho poderia ser fatal. Foi então que teve um estalo genial: "Quero uma pizza de calabresa... com urgência".
O operador do 190 na Bahia não levou três segundos para decifrar o código. Entre as entrelinhas do suposto pedido, ouviu o verdadeiro SOS: "Ele tá com uma faca... por favor, mandem viatura sem sirene".
Como o disfarce funcionou
Às 23h17 da última terça-feira, o Centro de Operações da PM em Salvador recebeu a chamada mais incomum do turno. Enquanto a mulher falava sobre "borda recheada" e "refrigerante gelado", os policiais já cruzavam a cidade com luzes apagadas.
- Primeiro movimento: A vítima confirmou o "endereço de entrega" — na verdade sua localização exata
- Segundo passo: Descreveu o "motoboy" (o agressor) como "alto, camisa vermelha e muito nervoso"
- Arremate perfeito: Pediu para "cancelar o pedido se demorasse" — sinal de extremo perigo
Quando os PMs chegaram, o suspeito ainda segurava a faca. Achou que iam buscar uma pizza de verdade — até levar um enquadramento surpresa. "Foi pura sorte ele não ter desconfiado", admitiu depois o cabo Rocha, um dos primeiros no local.
Números que assustam
A Bahia registrou 1.200 casos de violência doméstica só em julho. Muitas vítimas nem chegam a denunciar — ou pior, tentam e sofrem retaliação. "Essa estratégia salvou uma vida hoje, mas precisamos de mais canais seguros", desabafa a delegada Fernanda Lopes, especialista no tema.
Psicólogos alertam: situações assim deixam marcas profundas. "O cérebro entra em modo sobrevivência, daí surgem essas soluções criativas", explica Dra. Carla Mendes. Mas enfatiza — ninguém deveria precisar de tanta esperteza para não morrer.
Enquanto isso, a corajosa baiana (cujo nome foi preservado) recebeu medida protetiva. E os policiais? Fizeram questão de levar uma pizza de verdade no dia seguinte — dessa vez sem segundas intenções.