
Imagine a cena: uma cozinha qualquer, num bairro comum de Recife. O cheiro de comida ainda no ar, o dia seguindo seu curso normal. Até que, num rompante de fúria inexplicável, o comum vira pesadelo. Foi mais ou menos assim que a vida de uma menina de 8 anos virou de cabeça para baixo.
Segundo as primeiras informações – e aqui é importante frisar que ainda estamos no campo das apurações – a própria mãe teria pegado um garfo, esquentado no fogão e… bem, o que vem a seguir é de cortar o coração. A criança foi queimada, intencionalmente. Nas costas, para ser mais exato.
O socorro e a frieza dos detalhes
O que me deixa mais perplexo nessa história toda não é apenas o ato em si, mas a sequência de eventos. A menina foi levada ao Hospital da Restauração, um dos mais importantes de Pernambuco, com queimaduras que os médicos nem precisaram de muito tempo para classificar como graves. Alguém, em algum momento, precisou olhar para aquela criança e entender que aquilo não foi um acidente doméstico bobo.
E aí vem o detalhe que doi mais ainda: a mulher, a própria mãe, foi presa em flagrante. Policiais militares do 12° Batalhão é que fizeram a ocorrência. Você para para pensar: o que se passa na cabeça de alguém que comete algo assim? Que raiva é essa que supera o instinto mais básico de proteção?
As perguntas que ficam no ar
O caso agora está nas mãos da Delegacia de Polícia da Criança e do Adolescente (DPCA), que deve apurar todos os detalhes. E detalhes não vão faltar. Vizinhos, familiares, o pai da menina – todos serão ouvidos. Porque uma coisa é certa: casos assim raramente surgem do nada. Geralmente são o ponto culminante de uma série de outros problemas não vistos, não denunciados, não resolvidos.
É aquela velha história: a violência doméstica muitas vezes é silenciosa, até que vira notícia. E olha, morei muitos anos cobrando polícia e posso te dizer – o que chega no jornal é só a ponta do iceberg. O que será que essa família escondia?
O contexto que ninguém quer ver
Recife, como qualquer grande cidade, tem seus dramas. E a proteção infantil, vamos combinar, sempre foi um desafio enorme no Brasil. Não é de hoje. Os conselhos tutelares estão sobrecarregados, as denúncias nem sempre são investigadas a tempo e, quando são, muitas vezes a justiça é lenta.
Este caso específico – pela brutalidade, pelo uso de um objeto do cotidiano como arma – choca ainda mais. Um garfo! Um utensílio que deveria simbolizar refeições em família, conversas à mesa, virou instrumento de tortura. A contradição é de doer.
Enquanto a investigação corre, a menina segue hospitalizada. O resto é silêncio – o silêncio constrangedor de uma sociedade que ainda não encontrou uma maneira eficaz de proteger seus filhos.