
Dois anos. Setecentos e trinta dias de angústia. É quanto tempo Raquel Cantarelli, uma brasileira como tantas outras, passou sem poder abraçar suas próprias filhas. Mas essa história — que parece saída de um roteiro de novela — tem reviravoltas que nem o mais criativo dos dramaturgos ousaria inventar.
O começo do pesadelo
Tudo começou numa quinta-feira qualquer, quando Raquel recebeu uma notificação que fez seu mundo desabar. "Acusada de sequestro parental" — as palavras pareciam saltar do papel, queimando seus olhos. O detalhe absurdo? As crianças estavam com ela desde o nascimento, fruto de um relacionamento com um italiano.
"Foi como se eu tivesse virado criminosa da noite para o dia", conta Raquel, ainda com a voz embargada. O ex-companheiro, que mora na Itália, acionou a justiça alegando que ela teria impedido o contato paterno. Só que a realidade, como sempre acontece nessas histórias complicadas, tinha muito mais camadas.
A batalha judicial que atravessou oceanos
Enquanto os processos se arrastavam — porque justiça, quando envolve fronteiras, parece andar de muletas — Raquel enfrentou:
- Proibição de sair do Brasil com as meninas
- Acusações públicas que mancharam sua reputação
- Longas noites chorando sem entender como tudo desandou
Até que, num daqueles golpes de sorte que parecem milagres, e-mails e mensagens esquecidas em pastas antigas do computador surgiram como prova. "Elas mostravam claramente que eu nunca impedi o contato", explica. Pelo contrário: eram registros de tentativas frustradas de mediação, marcadas e desmarcadas pelo outro lado.
A reviravolta que ninguém esperava
Na semana passada, quando já tinha perdido as esperanças, Raquel recebeu uma ligação que a fez chorar no meio do supermercado. O juiz responsável pelo caso, após analisar as novas provas, determinou a absolvição de todas as acusações. "Meu primeiro impulso foi correr para escola das meninas, mas eu sabia que precisava respirar fundo e comemorar com calma", lembra.
O caso, que virou referência em disputas internacionais de custódia, levantou debates importantes:
- A dificuldade de mães brasileiras em processos contra pais estrangeiros
- Como o sistema judicial lida (ou não lida) com provas digitais
- O trauma que batalhas legais prolongadas causam nas crianças
Para Raquel, o alívio veio acompanhado de uma certeza amarga: "Nenhuma mãe deveria passar por isso. A justiça precisa ser mais ágil, mais humana". Enquanto isso, ela planeja o primeiro encontro das filhas com o pai — agora, em seus próprios termos.