
Dois casos por dia. Essa é a média de denúncias de violência contra mulheres registradas em Campinas apenas no primeiro semestre deste ano — um número que, convenhamos, já seria assustador mesmo se fosse mensal. Os dados do Disque 100, canal do governo federal, mostram uma realidade que dói: 364 ocorrências em 182 dias.
Mas aqui vai o pulo do gato: segundo coletivos feministas da região, o problema é ainda maior. "A gente sabe que muitas vítimas não denunciam por medo, dependência financeira ou falta de informação", explica Mara Rocha, coordenadora da Rede de Apoio à Mulher. Ela não erra — estudos nacionais indicam que para cada caso notificado, outros sete ficam na sombra.
O perfil que se repete
Das denúncias, 62% envolvem violência psicológica — aquela que não deixa marcas visíveis, mas destrói por dentro. Xingamentos, ameaças, controle das redes sociais... Coisas que muita gente ainda acha "normal" num relacionamento. Ledo engano.
Já a violência física aparece em 28% dos registros, seguida pela financeira (6%) e sexual (4%). Um detalhe arrepiante? Em 80% dos casos, o agressor era conhecido — parceiro, ex ou familiar.
O que falta?
Apesar da Lei Maria da Penha completar 19 anos em setembro, os gargalos persistem:
- Delegacias da Mulher com atendimento limitado
- Falta de casas-abrigo (só existem 3 na região)
- Demora nos processos judiciais
"Temos boas leis, mas precisamos botá-las pra rodar de verdade", crava a defensora pública Lúcia Mendes. Enquanto isso, o Disque 180 e o aplicativo "Salve Maria" seguem como alternativas — mas e aí, será que todo mundo sabe usar?