
Era uma terça-feira comum, por volta das onze da manhã, quando o pesadelo começou. Uma vendedora de 38 anos — que preferiu não identificar-se — estava trabalhando tranquilamente na região central de São Carlos, interior paulista, quando um veículo oficial da prefeitura estacionou abruptamente próximo ao seu local de trabalho.
De dentro do carro, uma motorista municipal começou a fazer comentários de cunho sexual absolutamente constrangedores. "Fiquei apavorada, completamente em choque", relata a comerciante, ainda visivelmente abalada. "Ela usou palavras obscenas, fez insinuações inapropriadas e não parava de me importunar."
O que mais assustou a vítima foi a naturalidade com que a agressora agiu — como se estivesse simplesmente cumprindo uma rotina qualquer, não cometendo um crime grave em plena luz do dia.
Reação imediata e busca por justiça
Ao contrário do que muitas vítimas fazem (e não as julgo, cada uma reage de forma diferente), essa corajosa mulher não se calou. Imediatamente após o ocorrido, dirigiu-se à delegacia mais próxima e registrou um boletim de ocorrência contra a funcionária pública.
No documento policial, consta que a motorista utilizou o veículo oficial — ou seja, pago com dinheiro dos contribuintes — para praticar importunação sexual. A prefeitura de São Carlos já foi notificada sobre o ocorrido e, pelo menos em tese, deve abrir um processo administrativo para apurar o caso.
Um problema que vai além
O que mais me impressiona nesse caso — e digo isso depois de cobrir inúmeras situações similares — é a ousadia de praticar esse tipo de crime durante o expediente, usando recursos públicos. Parece que algumas pessoas realmente acham que estão acima da lei, protegidas por algum tipo de blindagem imaginária.
A importunação sexual é crime previsto no artigo 215-A do Código Penal, com pena que pode chegar a cinco anos de prisão. Não é "brincadeira", não é "elogio", não é "inocência". É crime, ponto final.
A vítima, é claro, segue traumatizada. Quem não ficaria? Ser violentada verbalmente no próprio local de trabalho, sem qualquer motivo, por uma completa desconhecida — e ainda por cima uniformizada e representando o poder público.
E agora, o que esperar?
A polícia investiga o caso e tenta localizar a motorista — que, segundo testemunhas, estava claramente fardada e dirigindo veículo identificado da prefeitura. A prefeitura, por sua vez, prometeu apurar internamente a situação.
Enquanto isso, a corajosa vendedora tenta retomar sua rotina, mas confessa que ainda sente medo de ser reconhecida e sofrer represálias. "Só quero que justice seja feita", diz ela, com voz firme mas olhar cansado. "Nenhuma mulher merece passar por isso."
E ela está absolutamente certa. Nenhuma de nós merece.