
Às vezes a vida prega peças tão cruéis que chegam a ser difíceis de acreditar. Imagine uma criança de seis anos que nunca pôde comemorar um aniversário com a própria mãe. Que nunca recebeu um beijo de boa noite. Que só conhece o rosto materno através de fotografias amareladas pela saudade.
Essa é a realidade de Sophia – nome fictício para preservar a identidade da menor –, uma garotinha que habita um mundo de ausências. Sua mãe, a jovem Camila Silva, foi arrancada da vida num piscar de olhos, num daqueles acidentes brutais que acontecem quando o álcool e a direção se misturam de forma irresponsável.
E o pior? O homem por trás do volante naquele fatídico 18 de setembro de 2019 era um empresário conhecido na região de Ribeirão Preto. Ele dirigia com uma taxa de álcool no sangue que beirava o inacreditável. O caso, pasmem, ainda tramita na Justiça. Seis anos se passaram. Seis.
"Vó, eu posso brincar com a mamãe no céu?"
A pergunta, dita com uma inocência que corta o coração, é feita pela pequena Sophia com uma frequência que angustia sua avó, Maria. "É de uma dor que não cabe dentro do peito", desabafa a idosa, cuja voz embarga ao relatar os momentos mais cruéis. "Ela vê outras crianças com as mães no parquinho, no mercado, na escola... e pergunta por que a dela não volta."
O desespero é tanto que a menina, em seus devaneios infantis, acredita que a mãe está em um lugar chamado "céu" e que, de alguma forma, poderia visitá-la para uma simples brincadeira. "Dói ainda mais saber que quem causou isso tudo segue sua vida, enquanto nós afundamos numa tristeza sem fim", acrescenta Maria, com uma mistura de raiva e resignação.
Justiça? Ainda não
O processo judicial envolvendo o empresário – que, na época, tentou fugir do local do acidente – arrasta-se com uma lentidão desumana. Testemunhas foram ouvidas, perícias realizadas, mas o veredicto final parece ser um fantasma distante. Enquanto isso, a família de Camila lida diariamente com as sequelas invisíveis do trauma.
Não é só uma morte. É uma vida inteira roubada. Sonhos interrompidos. Uma filha que cresce ouvindo histórias sobre uma pessoa que nunca poderá abraçar.
O caso, que chocou a cidade na época, hoje parece ter caído no esquecimento de todos, menos daqueles que vivem suas consequências todos os dias. A esperança por justiça permanece, mas vai se tornando, ano após ano, um fio cada vez mais tênue.