Mães em luta: Justiça tardia após jovens serem assassinados a tiros em Morro Agudo
Mães buscam justiça por filhos assassinados em Morro Agudo

O silêncio na periferia de Morro Agudo pesa mais que o calor de julho. Duas mães, com olhos que já choraram até secar, percorrem o mesmo caminho há meses: da dor à delegacia, da delegacia ao cemitério. Seus filhos — dois jovens de 19 e 21 anos — foram executados com tiros na cabeça em plena luz do dia, num beco que virou cena de crime.

"Era pra ser só mais uma tarde de videogame", conta Mariana*, a voz embargada. Seu filho Rafael* saíra para comprar um refrigerante e nunca mais voltou. Dois disparos ecoaram por volta das 15h30. Quando chegou ao local, encontrou o corpo ainda quente, a camisa do time favorito encharcada de sangue.

O que a polícia sabe (ou diz não saber)

Segundo o boletim de ocorrência — aquele papel que nunca traz respostas —, os jovens teriam "envolvimento com facções". Mas as famílias garantem: trabalhavam como ajudantes de pedreiro e mal saíam do bairro. "Querem pintar meus filhos de bandidos pra engavetar o caso", desabafa Luciana*, que agora carrega a foto do filho em uma medalha no pescoço.

  • 14 de março: Data do crime que virou estatística
  • 0 prisões: Nenhum suspeito identificado
  • 3 perícias: Laudos inconclusivos

A delegacia regional — aquela que sempre falta papel sulfite — alega "falta de provas". Enquanto isso, nas ruas de terra do Jardim São Carlos, o medo criou raízes. Vizinhos falam em "homens de moto" que circulavam na área, mas ninguém quer dar depoimento. Quem vai arriscar ser a próxima vítima?

O ritual do desespero

Toda quarta-feira, as duas mães se encontram no Fórum da comarca. Vestem branco — cor que escolheram para simbolizar paz — e carregam cartazes com fotos desbotadas pelo sol. Já perderam as contas de quantas portas bateram:

  1. Ministério Público
  2. Defensoria Pública
  3. Secretaria de Segurança

"Prometem investigar, mas só vejo meu filho virando número em relatório", diz Mariana, mostrando a pilha de documentos com carimbos que não levam a lugar nenhum. Na última audiência, um promotor sugeriu "fechar o caso por insuficiência probatória". Como se a vida de dois jovens valesse menos que a burocracia.

Enquanto isso, na casa onde Rafael cresceu, o videogame continua ligado — a mãe não tem coragem de desligar. "Parece que ele vai voltar a qualquer momento", sussurra, acariciando o controle que ainda tem as digitais do filho. Na estante, o troféu de "melhor goleiro" da escolinha local acumula poeira e saudade.