
Ela guardou esse segredo por anos—um peso que parecia intransponível. Até que um dia, a coragem falou mais alto. Marina Lacerda, uma brasileira como tantas outras, decidiu quebrar o silêncio que a mantinha refém de suas próprias memórias.
Seu depoimento? Arrebatador. Na última quarta-feira (3), perante autoridades americanas, Marina descreveu com detalhes visceralmente humanos os abusos que sofreu nas famosas—e agora infames—ilhas de Jeffrey Epstein.
Um Encontro que Mudou Tudo
Tudo começou em 2004. Marina, então com 23 anos, trabalhava como massoterapeuta em Orlando. Foi nessa época que Epstein—homem rico, influente, e com conexões que pareciam tocar o céu—entrou em sua vida. Ele a contratou para um serviço. Soava normal, profissional. Mas normalidade era algo que Jeffrey Epstein não praticava.
“Ele me levou para suas ilhas”, conta ela, com uma voz que mistura raiva e alívio. “E foi lá que o pesadelo começou.”
O Sistema de Recrutamento: Máquina Bem Oleada
Não foi por acaso. Marina descreve um sistema quase industrial de recrutamento. Ghislaine Maxwell—a famosa aliada de Epstein—tinha um papel chave. Ela identificava jovens vulneráveis, oferecendo oportunidades que pareciam douradas. Quem recusaria?
“Ela abordava mulheres jovens, muitas vezes em situações financeiras precárias”, detalha Marina. “Oferecia empregos, ajuda, um futuro. Era uma isca perfeita.”
Os Voos e as Ilhas: Cenário de Horror
O jato particular—aquele mesmo, o “Lolita Express”—era a porta de entrada. Uma vez dentro, a liberdade desaparecia. Nas ilhas, Marina relata ter sido abusada sexualmente várias vezes. Epstein, sempre cercado de figuras poderosas, agia com uma impunidade que doía mais que o próprio abuso.
“Ele fazia o que queria”, diz ela, com uma resignação que corta a alma. “E sabia que ninguém o impediria.”
Por que Falar Agora?
Questionada sobre a decisão de quebrar o silêncio após tanto tempo, Marina não hesita. “Pelas outras. Por todas que ainda não conseguiram falar.” Seu depoimento integra o processo movido pelo estado da Virgínia contra as propriedades de Epstein—uma tentativa de garantir que as vítimas sejam, finalmente, indenizadas.
Mas vai além do dinheiro. É sobre justiça. Reconhecimento. E sobre mandar uma mensagem clara: o silêncio não protege mais os poderosos.
O Impacto do Seu Depoimento
Especialistas em direito internacional já veem o testemunho de Marina como crucial. Não só pela descrição detalhada dos métodos de Epstein, mas por expor como o sistema—aquele mesmo que deveria proteger—falhou repetidas vezes.
“Vítimas como Marina são a chave para entender a extensão total dos crimes”, opina um jurista que acompanha o caso. “Elas não são apenas estatísticas. São vozes que corrigem a história.”
E que voz. Marina hoje vive no Brasil, longe dos holofotes, tentando reconstruir a própria vida. Mas sua fala ecoa—alto e claro—num mundo que, muitas vezes, prefere não ouvir.