
Imagine precisar de uma ambulância e ela não chegar porque alguém achou divertido fazer uma brincadeira de mau gosto. Pois é, essa realidade assustadora virou rotina no Amapá — só nos primeiros seis meses de 2025, os bombeiros e outros serviços de urgência registraram 3.042 trotes. Um número que daria risada se não fosse trágico.
Os dados, divulgados pela Secretaria de Segurança Pública, mostram que as chamadas falsas representam quase 15% do total de ocorrências. "É um desperdício de recursos que poderia custar vidas", desabafa um tenente dos bombeiros que prefere não se identificar — afinal, quem trabalha na linha de frente sabe que cada minuto perdido com bobagens pode ser crucial.
O preço da brincadeira
Não é só papelada que se acumula:
- Equipes inteiras são deslocadas sem necessidade
- Pessoas com emergências reais ficam esperando
- Os gastos com combustível e manutenção disparam
E olha que a gente nem tá falando do desgaste emocional dos profissionais — imagina você lidar com isso dia após dia? Tem gente que acha graça, mas pra quem está do outro lado da linha, a situação é longe de engraçada.
Quem paga o pato?
Os números não mentem: a maioria esmagadora dessas ligações vem de adolescentes entre 12 e 17 anos. "É falta do que fazer somada à sensação de impunidade", analisa a psicóloga Raquel Mendes, que estuda o comportamento juvenil na região. Alguns pais, quando confrontados, até tentam justificar: "Ah, é só uma fase". Só que fase, quando coloca vidas em risco, vira caso de polícia.
E não pense que isso é brincadeira de criança — em Macapá, um caso recente quase terminou em tragédia quando uma equipe foi enviada para um "incêndio" que nunca existiu, enquanto um idoso com AVC esperava por socorro do outro lado da cidade.
O que está sendo feito?
A boa notícia? As autoridades finalmente acordaram para o problema:
- Campanhas educativas nas escolas
- Rastreamento mais ágil das chamadas
- Projeto de lei para aumentar as penas
Mas será que isso basta? Enquanto a tecnologia avança, os trotes também ficam mais sofisticados — tem até caso de IA sendo usada para imitar vozes e criar situações falsas. O jogo do gato e rato parece longe de acabar.
No fim das contas, a solução talvez esteja onde menos esperamos: em casa. Porque educação, como diz o ditado, começa no berço — ou, nesse caso, na hora de ensinar que brincadeira tem hora, lugar e, principalmente, limites.