
A madrugada desta segunda-feira em Santos não foi de paz. Longe disso. Por volta das 2h30, o silêncio do bairro da Ponta da Praia foi brutalmente estilhaçado por um ruído que ninguém confunde: rajadas de tiros. Muitas. Mais de vinte, para ser mais exato, todas direcionadas ao carro de um homem que, pra muita gente, é a própria representação da lei na região.
Dentro do veículo, sozinho, estava o delegado Ruy Ferraz Fontes. Um nome que dispensa apresentações no mundo policial. Ele dirigia seu Hyundai HB20, cor branca – uma escolha que, naquela hora, deve ter parecido terrivelmente inadequada para passar despercebido – quando foi surpreendido pela investida criminosa.
E não foi pouco. Os bandidos, a bordo de outro carro, simplesmente abriram fogo. A cena foi de puro cinema negro, daqueles que a gente nunca quer ver na vida real. O vidro traseiro do carro do delegado foi reduzido a cacos. A lataria, transformada numa peneira de marcas de projéteis. Um verdadeiro milagre, ou talvez muita sorte misturada com uma pitada de destino, fez com que nenhum dos tiros atingisse Ruy Ferraz. Sim, você leu certo. O homem saiu ileso, física e psicologicamente? Bom, essa segunda parte a gente só vai saber com o tempo.
Não foi aleatório
É óbvio que um ataque dessa magnitude, tão preciso e violento, não foi obra do acaso. A Polícia Civil já deixa claro: a execução foi um recado direto. Um aviso na linguagem brutal do crime organizado que infesta a Baixada Santista. Ruy Ferraz Fontes não é um delegado qualquer; ele comanda o DECAP (Delegacia de Investigações sobre Crimes de Armamentos e Produtos Controlados), um setor que, por si só, já é um espinho no pé das facções.
E sabe o que é mais intrigante? O delegado não usava viatura nem estava escoltado no momento. Ele trafegava sozinho, num carro particular, o que levanta uma série de questionamentos assustadores. Como os criminosos sabiam exatamente onde ele estaria naquela hora escura da madrugada? Foi um trabalho de inteligência do crime, com direito a espionagem e tudo? A sensação é de que ninguém, absolutamente ninguém, está a salvo.
A Reação Imediata
O barulho dos disparos, é claro, não passou batido. Moradores acordaram assustados e, como não poderia deixar de ser, acionaram a polícia. Quando os agentes chegaram, a cena era de guerra. A via, uma rua comum de um bairro comum, estava tomada por cápsulas deflagradas – a prova material da fúria dos atiradores.
O delegado-geral adjunto, Arthur Gaspareli, não mediu palavras ao comentar o caso. Disse que a "investigação vai apurar todos os detalhes com rigor" e deixou claro que a corporação está de prontidão. É uma tentativa de acalmar os ânimos, mas todo mundo sabe que um ataque desses é como um terremoto – o tremor inicial é só o começo.
Enquanto os peritos colhem as últimas evidências no local, uma pergunta paira no ar, mais pesada que a fumaça de pólvora: quem teria a ousadia de mandar uma mensagem tão sangrenta para um representante tão alto da lei? As apostas estão abertas, mas uma coisa é certa: a cidade de Santos acordou hoje um pouco mais sombria.