O clima no The Town era pesado, e não era só por causa do riff de guitarra. Algo no ar, além do cheiro de cerveja e multidão, carregava uma tensão diferente. Os astros do rock subiram ao palco, mas em vez de apenas setlists, trouxeram na bagagem um recado claro para Brasília.
E não, não foi sutil. Lá no meio de clássicos atemporais, entre um solo e outro, os músicos foram abrindo o jogo. A plateia, que foi pra pular e cantar, também ouviu — e entendeu na hora. A proposta de anistiar envolvidos em investigações? Aquilo não colaria. Nem no planalto, nem no pop.
O palco virou tribuna, ainda que por alguns minutos. E a galera, com o punho no ar ou a camisa suada, fez coro. Não era discurso de político, era gente comum com a voz rouca gritando o que muita gente pensa: impunidade não é — e nunca foi — rock’n’roll.
Não É Só Música, É Atitude
Quem pensa que festival é só entretenimento, se enganou feio. O The Town mostrou que cultura e política andam de mãos dadas — e às vezes, de braços dados no mosh pit. Os artistas, conscientes do seu reach, usaram o microfone como megafone. Um após o outro, lembraram que por trás do amplificador ligado no máximo, existe um país com problemas no volume 11.
E a reação do público? Imediata. Aplausos que ecoaram mais forte que o baixo, gritos de “não vai passar!” entre uma música e outra. Ficou claro que aquele não era um tema distante, de gabinete com ar-condicionado. Era uma pauta quente, no asfalto quente de São Paulo.
- Vozes Amplificadas: Artistas de peso deixaram a opinião explícita, sem meias palavras.
- Plateia Engajada: Gente de todas as idades mostrando que cidadania também se pratica no tempo do rock.
- O Momento é Agora: O protesto acontece em meio a avanços da proposta no Congresso — e o timing não foi por acaso.
Parece que a galera cansou. Cansou de ver a justiça sendo enrolada, de ver nome sujo saindo limpo por canetada. E quando o povo cansado se junta, vira coro. E quando o coro é no The Town, vira manchete.
Além do Evento: O que Está em Jogo?
Mas calma, não é só sobre um festival. A tal PEC — apelidada não à toa de “da Impunidade” — pode mudar regras do jogo. E mudar pra pior, segundo quem foi às ruas (ou ao festival). A proposta abre brecha para anistiar pessoas sob investigação, o que, convenhamos, soa como um salvo-conduto para quem não deveria ter um.
Isso sem falar no timing, né? Num país que ainda tenta sepultar os fantasmas da corrupção, liberar geral parece… bem, estranho. Suspeito, até. E o povo notou. E o povo reagiu. No grito, no cartaz, no stories e no meio do show.
O recado tá dado, e alto. Resta saber se vai ser ouvido.
