
Não foi um domingo qualquer pelo Brasil. Longe disso. Enquanto muitos ainda aproveitavam o último suspiro do fim de semana, milhares de pessoas decidiram trocar o descanso pela voz ativa — e foram para as ruas. O motivo? Uma dupla de pautas que mexe com os alicerces da nossa democracia: a rejeição veemente à PEC da Blindagem e um grito constante pela revisão da Lei de Anistia.
De norte a sul, das capitais aos interiores, o cenário se repetiu: cartazes, bandeiras, microfones abertos e uma certa urgência no ar. Algo que, pra ser sincero, a gente não via com tanta força faz um tempinho.
Mas o que está pegando mesmo?
Bom, vamos por partes. A tal PEC 5/2023 — apelidada de "PEC da Blindagem" — quer basicamente uma coisa: tornar bem mais difícil processar e condenar agentes públicos, desde políticos até juízes e promotores. Seus críticos veem aí um risco enorme, uma espécie de "salvo-conduto" para a impunidade. Já a Lei de Anistia, de 1979, segue sendo um ponto de ferida aberta para muitos, que consideram que ela perdoou crimes graves da ditadura — e que revisar isso é uma questão de justiça, não de vingança.
E olha, a coisa não ficou só no grito. Em São Paulo, o vão livre do MASP foi tomado por uma multidão heterogênea — gente de todas as idades, cores e ideologias, mas unidas por um incômodo comum. O mesmo aconteceu no Rio, onde o calçadão de Copacabana testemunhou discursos inflamados. Porto Alegre, Belo Horizonte, Recife… a lista segue. Até mesmo cidades menores entraram no mapa dos protestos.
Um sentimento que não é de hoje
Não se engane: isso não surgiu do nada. A insatisfação vem crescendo — quietinha, mas crescendo — há meses. A percepção de que certas estruturas de poder parecem intocáveis é um combustível potente. E quando você junta isso com a sensação de que a memória histórica está sendo apagada… bem, é pavio curto.
Os organizadores não pouparam críticas. "É um projeto de lei que protege a casta", disparou um manifestante em Brasília, sem papas na língua. Outros lembraram casos recentes de corrupção que, na visão deles, ficariam ainda mais difíceis de julgar se a PEC virar realidade.
E do outro lado? Bom, os defensores da proposta argumentam que é preciso dar mais segurança jurídica a quem ocupa cargos públicos — evitando, assim, que investigações vexatórias ou politicamente motivadas atrapalhem o exercício da função. Mas, cá entre nós, essa nuance quase some no calor das ruas.
E o que vem pela frente?
Difícil dizer. O governo Lula já sinalizou que não vai apoiar a PEC — mas ela segue tramitando no Congresso, onde a base governista não é exatamente soberana. Já a discussão sobre a Anistia é ainda mais espinhosa, mexe com fantasmas de um passado que muita gente prefere não revirar.
Uma coisa é certa: o domingo mostrou que a sociedade civil não está dormindo. E que, por mais que a polarização às vezes canse, há debates que simplesmente não podem ser adiados. O Brasil segue falando — e agora, o resto do país está ouvindo.