
Não era um domingo qualquer em Porto Alegre. Longe da tranquilidade usual, o centro da capital gaúcha fervia com uma energia que só a indignação coletiva é capaz de gerar. Milhares de vozes, cartazes e bandeiras tomavam conta do Largo Glênio Peres por volta das 15h, num cenário que misturava protesto e esperança.
O alvo da fúria popular? A famigerada PEC 132, apelidada de "PEC da Impunidade" ou "PEC da Blindagem" pelos manifestantes. A proposta, que segue tramitando no Congresso, é um verdadeiro balde de gasolina no já conturbado cenário político nacional. A tal da anistia a débitos tributários? Só para refrescar a memória, estamos falando de uma dívida que beira os R$ 300 bilhões. Sim, bilhões. Com "B" maiúsculo.
O Grito que Ecoou nas Ruas
Não foi um protesto silencioso. Muito pelo contrário. Os cantos de "Fora, Blindagem!" e "Não vai ter anistia!" cortavam o ar com uma força que dava arrepios. A diversidade no local era notável – e isso, talvez, fosse o mais significativo. Jovens universitários lado a lado com sindicalistas veteranos, mães com carrinhos de bebê, professores, artistas. Uma verdadeira colcha de retalhos da sociedade gaúcha, unida por um único propósito: não calar diante do que consideram um acinte à justiça.
"A gente não pode cruzar os braços enquanto tentam legalizar a corrupção", disparou uma professora aposentada, que preferiu não se identificar. Ela não estava sozinha nesse sentimento. A frustração era palpável, quase tangível no ar carregado de descontentamento.
Um Quebra-Cabeça de Insatisfações
O interessante é que a PEC da Blindagem parece ser apenas a ponta do iceberg de um mal-estar muito mais profundo. Conversando com alguns manifestantes, ficava claro que a proposta serviu como estopim para uma série de outras queixas:
- A percepção de um Congresso desconectado da realidade do cidadão comum
- O temor de um retrocesso na luta contra a corrupção
- A revolta com a possibilidade de um "perdão" para grandes devedores enquanto o cidadão paga impostos em dia
- Uma sensação geral de que as instituições estão sendo minadas por interesses escusos
Não era, definitivamente, uma manifestação de um único recorte. Era um caldeirão de insatisfações que finalmente transbordou.
E Agora, José?
O grande questionamento que fica no ar – e que ninguém parece saber responder com certeza – é: será que essa pressão das ruas vai ecoar nos corredores do poder em Brasília? A história recente nos mostra que manifestações populares já mudaram rumos políticos antes, mas também nos ensina que a política brasileira tem uma resistência impressionante à pressão externa.
Uma coisa é certa: Porto Alegre mandou um recado claro. E alto. Resta saber se alguém em Brasília está disposto a ouvir. Enquanto isso, o movimento promete não arrefecer. É só o começo, garantem os organizadores. O que vem por aí? Nem eles sabem ao certo. Mas a determinação, essa está estampada no rosto de quem foi às ruas neste domingo histórico.