
O clima em Brasília é de tensão contida, daquelas que se sente no ar antes de uma tempestade. Fontes do Palácio do Planalto não disfarçam a preocupação com um desfecho que pode balançar as estruturas da economia nacional. O imbróglio judicial envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro nos Estados Unidos deixou de ser uma mera curiosidade jurídica para se tornar uma ameaça concreta.
E não é exagero. O julgamento da tentativa de golpe de Estado – sim, eles estão chamando a coisa pelo nome – avança a passos largos na justiça norte-americana. E o governo brasileiro, pasmem, está de olho. Não por torcida, claro, mas por puro instinto de sobrevivência.
O que está em jogo?
Mais do que a eventual condenação de um ex-mandatário. O busílis da questão reside num detalhe que tira o sono de muitos economistas por aqui: as tais sanções. Washington tem um histórico de… vamos dizer, rigor… ao punir nações que considera envolvidas em atividades antidemocráticas. E adivinhem quem pode ser incluído nesse pacote?
Um relatório interno da equipe económica do governo, obtido pela reportagem, projecta cenários nada animadores. O mais pessimista – e, infelizmente, não tão improvável – prevê a restrição de investimentos directos norte-americanos em sectores cruciais. Energia, tecnologia, infraestrutura… áreas que dependem fortemente de capitais externos.
E os Estados Unidos?
Do outro lado do hemisfério, o Departamento de Estado mantém aquele silêncio diplomático que, convenhamos, assusta mais que um berro. Oficialmente, afirmam que «acompanham o caso com interesse». Só que «interesse», na linguagem diplomática, raramente é algo bom.
Analistas ouvidos pela redacção são directos: a condenação de Bolsonaro pode servir de justificativa perfeita para uma guinada protecionista que já fervilha no Congresso americano. É a tempestade perfeita: motivação política com roupagem moral. Conveniente, não?
O Itamaraty, por sua vez, trava uma batalha silenciosa nos corredores de Washington. A estratégia? Tentar desvincular o Estado brasileiro dos actos do ex-presidente. Uma tarefa hercúlea, diga-se de passagem, quando o mundo ainda lembra dos vídeos dos ataques às instituições.
O que vai acontecer? Bom, ninguém sabe ao certo. Mas uma coisa é clara: o Brasil pode estar prestes a pagar um preço altíssimo por capítulos recentes da sua história que muitos prefeririam esquecer.