
Era supostamente mais um dia comum nas ruas de Santarém, até que a violência explodiu com uma crueza que chocou até os mais habituados com a guerra silenciosa que consome a região. A Polícia Civil do Pará fechou o caso com chave de ferro: a morte de Francisco das Chagas Silva, o infame Boca Roxa, não foi um crime qualquer. Foi um recado.
Um recado sangrento e calculista no jogo de xadrez do crime organizado local. As peças se movem rápido aqui no oeste do Pará, e a investigação apontou o dedo para uma disputa feroz entre facções rivais pelo controle do território — um conflito que transforma ruas e comunidades em campo de batalha.
O Corpo e as Pistas
Tudo começou naquele 28 de agosto, num ramal da vicinal do Arapari, zona rural de Santarém. Um local longe dos olhos, escolhido a dedo para que o silêncio fosse o único espectador. O corpo de Boca Roxa foi encontrado, e a cena não deixava dúvidas: execução pura, com marcas de violência excessiva, daquelas que não servem apenas para matar, mas para assustar.
Os peritos trabalharam com um quebra-cabeça de evidências — coisas que um algoritmo jamais entenderia, apenas a experiência humana de quem já viu tudo. E as peças, uma a uma, foram se encaixando. Não foi crime passional, rixa pessoal ou acerto de contas aleatório. A motivação era territorial, institucional, quase corporativa — se é que se pode usar esse termo para algo tão bárbaro.
O Jogo de Poder por Trás do Crime
O que mais salta aos olhos — e preocupa qualquer um com mínimo de senso comunitário — é a frieza. A investigação mostrou que a ordem partiu de dentro do próprio sistema criminoso, uma decisão de comando, como se fosse uma reunião de diretoria do mal. Boca Roxa era uma peça importante, mas descartável no tabuleiro maior.
E isso, convenhamos, é de gelar a espinha. Porque significa que a disputa não é entre marginais isolados, mas entre estruturas organizadas, com hierarquia, planejamento e poder de fogo. E Santarém, cidade estratégica pela localização e rotas, vira palco preferencial desse conflito.
Os delegados responsáveis pelo caso foram enfáticos: o trabalho foi minucioso, baseado em provas técnicas, mas também na inteligência de rua — aquela que não vem de computador, mas de contato, de conversa, de confiança construída a duras penas.
E Agora, o Que Esperar?
A pergunta que fica, e que todo cidadão de Santarém faz sem dizer em voz alta, é: o que vem depois? Quando uma facção elimina um nome forte da rival, a resposta dificilmente fica no vácuo. A sensação é de que foi apenas um capítulo — nem sequer o mais dramático — de uma novela longa e violenta.
A Polícia Civil garante que o inquérito foi encaminhado à Justiça, e que agora os responsáveis identificados serão responsabilizados. Mas nas quebradas, o povo sussurra: isso não acaba aqui. O clima é de apreensão, daquele tipo que gruda no ar como cheiro de chuva prestes a cair.
Uma coisa é certa: a morte de Boca Roxa escancarou uma guerra que muitos preferiam ignorar. E revelou, mais uma vez, que o preço dessa disputa é sempre pago por quem menos deveria — a população.