
Era um esquema tão ardiloso que até parecia roteiro de filme. Uma quadrilha especializada em aplicar golpes usando garotas de programa como isca foi desbaratada pela polícia em Itatinga, interior de São Paulo. O curioso? O bairro onde atuavam foi literalmente projetado para abrigar a prostituição — único caso do tipo no país.
Detalhes da operação mostram que os criminosos agiam com método quase militar. Primeiro, as mulheres abordavam as vítimas em bares e pontos de prostituição. Depois, levavam os homens para locais isolados onde eram surpreendidos por comparsas armados. "Era um teatro bem ensaiado", confessou um dos presos.
O bairro que virou palco de crime
Itatinga, cidade de 20 mil habitantes, ganhou notoriedade nos anos 90 quando projetou um bairro inteiro para a atividade sexual. A ideia era organizar e fiscalizar o comércio do sexo. Mas o tiro saiu pela culatra — o local virou terreno fértil para todo tipo de ilegalidade.
Moradores antigos contam que, nos últimos anos, o clima mudou completamente. "De repente, começaram a aparecer histórias de assaltos e ameaças. Todo mundo sabia, mas tinha medo de falar", revela um comerciante que preferiu não se identificar.
Modus operandi sofisticado
A investigação revelou detalhes perturbadores:
- As vítimas eram filmadas sem consentimento durante atos sexuais
- Os criminosos usavam dados pessoais para chantagem
- Valores extorquidos variavam entre R$ 500 e R$ 10 mil
- Alguns alvos eram ameaçados de morte caso não pagassem
Parece coisa de filme, mas aconteceu de verdade. E o pior? Durou quase dois anos antes que a polícia conseguisse reunir provas suficientes.
"Eles tinham até um sistema de rodízio entre as cidades da região", explica o delegado responsável pelo caso. Quando a pressão aumentava em um município, simplesmente mudavam de endereço.
Operação fecha cerco
Na última terça-feira (15), a Polícia Civil deflagrou a operação que prendeu 8 suspeitos. Entre eles, o suposto líder — um homem de 37 anos com passagem por roubo e tráfico.
Durante as buscas, foram apreendidos:
- Armas de fogo
- Drogas
- Celulares usados nos crimes
- Anotações com nomes de vítimas
O caso agora segue para a Justiça, mas já deixou uma lição clara: até os planos mais bem intencionados podem ser distorcidos pela criminalidade. Itatinga, que queria ser exemplo de organização, acabou virando estudo de caso sobre como o crime se adapta.