
Era um esquema tão bem armado que até parecia roteiro de filme – só que a grana era de verdade, e o estrago, bem real. Uma investigação de meses descobriu que o programa Farmácia Popular, aquele que deveria ajudar João e Maria a comprar remédio barato, virou máquina de lavar dinheiro do crime organizado.
Pelo menos 43 farmácias fantasmas em cinco estados – SP, RJ, MG, PR e RS – emitiam notas frias como se tivessem vendido toneladas de medicamentos. Só que os comprimidos sumiam no caminho entre o papel e a vida real. Enquanto isso, o dinheiro do SUS escorria direto para contas offshore.
O pulo do gato (ou melhor, do traficante)
Os caras não eram amadores. Criavam fachadas perfeitas: alugavam imóveis, montavam prateleiras com caixas vazias, até colocavam balconistas para fingir movimento. Tudo para passar no pente-fino das fiscalizações.
Mas o buraco era mais embaixo. Segundo delegados, parte da grana desviada ia direto para financiar rotas internacionais de cocaína. Sim, seu remédio para pressão alta poderia estar bancando lancha rápida cheia de pó.
- R$ 127 milhões desviados em 2 anos
- 18 pessoas presas, incluindo donos de farmácias e laranjas
- Operação conjunta da PF, Receita e Ministério Público
O que mais revolta? Enquanto isso, idosos faziam fila pra comprar insulina com desconto que nunca chegava. "É de cair o queixo da gente", disse uma aposentada que preferiu não se identificar – com medo, claro.
Como o esquema funcionava
- Gangue criava farmácia "de mentirinha" com documentação perfeita
- Cadastrava no Farmácia Popular como se vendesse remédios a rodo
- Emitia notas fiscais de vendas que nunca aconteceram
- Recebia reembolso do governo por medicamentos fantasmas
- Lavava o dinheiro em negócios legítimos e no exterior
Parece brincadeira, mas teve farmácia que "vendeu" 3 toneladas de dipirona em uma semana – o suficiente pra entupir o sistema digestivo de uma cidade inteira. Quando a Receita foi checar, o estoque tinha... adivinha? Nada.
Agora o Ministério da Saúde promete "pente-fino" em todas as farmácias cadastradas. Só nos resta torcer pra que, dessa vez, a fiscalização chegue antes que o dinheiro suma de novo.