
Era pra ser um dia como qualquer outro na periferia de Rio Largo, mas o tiro que ecoou naquela tarde de quinta-feira mudou tudo. Um homem - que prefere não se identificar - levou um disparo nas costas enquanto caminhava pela comunidade. E o motivo? Decidiu que não queria mais fazer parte do tráfico.
"Já tava cansado dessa vida", contou ele, ainda abalado, no hospital onde está internado. "Mas parece que pra eles, desistir não é opção." A frase, dita entre suspiros, resume o calvário de quem tenta sair do crime organizado na região.
O preço da liberdade
Segundo relatos, a vítima estava envolvida com facções há pelo menos três anos. Recentemente, porém, começou a mostrar desinteresse - e isso não passou despercebido. "Eles percebem tudo", explica um agente da delegacia local, que pediu anonimato. "Qualquer vacilo, qualquer mudança de comportamento... É como um radar."
O ataque aconteceu em plena luz do dia, perto de um ponto de ônibus. Testemunhas disseram ter visto dois homens em uma moto - o clássico modus operandi. A vítima levou um único tiro, mas que por pouco não foi fatal. "Foi milagre", murmura uma senhora que mora nas redondezas. "Todo mundo aqui sabe como essas histórias costumam terminar."
Entre a cruz e a espada
O caso joga luz sobre um dilema cruel: como sair do tráfico quando a saída pode custar a vida? Especialistas apontam que a falta de políticas públicas eficientes transforma essa decisão numa roleta-russa. "Não basta querer sair", analisa uma assistente social que trabalha na região. "Sem apoio, sem alternativas reais... É como pular de um penhasco sem saber se tem água embaixo."
Enquanto isso, a vítima se recupera - fisicamente, pelo menos. O trauma psicológico, esse vai demorar bem mais pra sarar. "Só quero sumir daqui", confessa, olhando fixamente para a parede do hospital. "Mas pra onde eu vou?" A pergunta, carregada de angústia, ecoa como um grito silencioso de muitos na mesma situação.