O lobista Andreson de Oliveira Gonçalves, apontado como peça central em um sofisticado esquema de lavagem de dinheiro, cumpre prisão domiciliar desde julho após o Supremo Tribunal Federal (STF) aceitar pedido da defesa devido ao seu estado crítico de saúde.
Esquema milionário desvendado
Um relatório preliminar da Polícia Federal revelou que Gonçalves utilizava a empresa Florais Transportes como núcleo financeiro do esquema de lavagem de dinheiro que supostamente vinha da venda de sentenças judiciais. Segundo as investigações, o grupo articulava uma rede de intermediários que facilitava a movimentação de milhões de reais por dia nas contas da transportadora.
Adquirida pelo lobista em 2013, a Florais Transportes tornou-se o principal instrumento para conferir aparência de legalidade a operações fictícias. Em diálogos interceptados, Andreson, que era chamado de "mestre dos magos" por seus articuladores, afirmava ter condições de movimentar valores expressivos sem levantar suspeitas.
Como funcionava o esquema
O relatório da PF detalhou que o esquema se sustentava em dois pilares principais:
Baixa rastreabilidade: a execução de serviços de transporte dificultava auditorias detalhadas sobre cada viagem, carga ou rota.
Flexibilidade documental: o uso de descrições genéricas em notas fiscais e contratos possibilitava a emissão de documentos frios, reduzindo o risco de detecção.
Os contratos simulados eram usados para justificar a emissão de notas fiscais falsas, com descrições genéricas como "fretes interestaduais" ou "transporte de cargas diversas". O dinheiro ilícito era então inserido nas contas da empresa por meio de transferências bancárias aparentemente regulares.
Transferências milionárias
Extratos bancários comprovaram que o advogado Roberto Zampieri, morto em 2023, transferiu R$ 7.180.000,00 entre 2019 e 2023 para a conta da Florais Transportes. Os depósitos variavam de R$ 50 mil a R$ 2 milhões, configurando what os investigadores chamaram de "fase de introdução da lavagem de capitais" por intermédio da empresa.
Na conclusão do relatório, o delegado Marco Bontempo afirmou que a análise financeira revelou que o esquema funcionava por meio de um grupo de beneficiários que usava transferências fracionadas e frequentes para dificultar a identificação das movimentações.
Operações e investigações
Andreson Gonçalves foi preso em novembro de 2024 e é apontado como intermediador de vendas de sentenças em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Seu nome veio a público após ser alvo das Operações Última Ratio e Sisamnes, que afastaram magistrados nos dois estados.
As investigações começaram em agosto de 2024, após mensagens no celular do advogado Roberto Zampieri, assassinado a tiros em 2023, levantarem a suspeita de venda de decisões judiciais. Pelas conversas, a Polícia Federal apontou que o lobista seria um dos responsáveis por aproximar o advogado dos desembargadores de Mato Grosso, Sebastião de Moraes Filho e João Ferreira Filho.
As investigações seguem em andamento, enquanto Andreson Gonçalves, dono de empresas no ramo de transporte em vários estados do país, cumpre prisão domiciliar devido às suas condições de saúde.
