
Imagina só: de estrela absoluta dos gramados, aplaudido por multidões, para o silêncio ensurdecedor de uma cela. É nesse cenário de stark contrast que Robson de Souza, o Robinho, vive seus dias. A rotina do ex-atacante na penitenciária de Tremembé, no interior paulista, foi descrita com riqueza de detalhes – e é de cortar o coração, ou não, dependendo do seu ponto de vista sobre justiça.
Quem traz à tona esses detalhes é ninguém menos que o escritor Mario Sabino, uma figura que sabe costurar palavras como ninguém. Ele mergulhou fundo no dia a dia do condenado e pintou um retrato que é, no mínimo, intrigante.
O Peso do Silêncio e dos Monólogos
Longe dos holofotes, a realidade é outra. Sabino aponta um hábito que chama a atenção: Robinho passa boa parte do tempo… falando sozinho. Não é um murmúrio qualquer, não. São conversas francas, intensas, consigo mesmo. Um monólogo contínuo que ecoa pelas paredes da cela. Seria ele um Hamlet moderno, remoendo seus próprios fantasmas? A pergunta fica no ar.
O isolamento parece ser seu companheiro mais constante. Ele evita contato, mantém distância dos outros detentos e praticamente não participa de atividades em grupo. Prefere a solidão do seu próprio espaço, um refúgio autoimposto dentro de uma prisão que já é, por si só, um lugar de confinamento.
Uma Rotina Metódica e Solitária
A vida por trás das grades segue um ritmo bem diferente do corre-corre de um atleta de alto nível. Acordar cedo, comer no horário determinado, aquele tempo ocioso que parece não acabar nunca. A grande questão é: como preencher essas horas todas?
Pois é. Aparentemente, com muita introspecção. Sabino deixa claro que o ex-jogador não é exatamente um sociólogo da prisão. Ele não se mistura. Fica na dele. Observa. E, claro, conversa… com seu único interlocutor indisputável: ele mesmo.
É um comportamento que pode ser lido de mil maneiras. Arrependimento? Estratégia de sobrevivência para evitar conflitos? Ou simplesmente a incapacidade de lidar com a queda brutal de um mundo de glamour para a mais crua realidade? Difícil dizer. O fato é que a imagem do ídolo solitário, engajado em um diálogo interminável consigo mesmo, é poderosa e, de certa forma, tristemente poética.
Uma coisa é certa: a cela de Tremembé é um palco muito diferente daqueles a que Robinho estava acostumado. E o único público para seus monólogos agora é o seu próprio reflexo.