O Departamento de Justiça dos Estados Unidos divulgou cerca de 4.000 arquivos relacionados ao caso do financista condenado por crimes sexuais, Jeffrey Epstein, na última sexta-feira. A liberação ocorreu dentro do prazo estabelecido por lei, mas o conteúdo gerou imediatas controvérsias devido à quantidade de informações censuradas e às imagens que mostram Epstein ao lado de figuras mundialmente famosas.
Fotos e documentos com informações ocultadas
Entre os milhares de páginas disponibilizadas, várias fotografias chamam a atenção por registrarem a presença de Jeffrey Epstein na companhia de superestrelas como Michael Jackson e Mick Jagger, além do ex-presidente Bill Clinton. No entanto, muitos rostos nas imagens aparecem obscurecidos, assim como extensos trechos de documentos.
Um dos itens mais notáveis é uma lista que cita 254 "massagistas", mas que teve todos os nomes ocultados. Outro documento que gerou questionamentos é um processo judicial de 119 páginas de um tribunal de Nova York, que foi divulgado quase inteiramente riscado, sem qualquer explicação oficial para a censura.
Reações políticas e acusações de censura
A forma como os arquivos foram divulgados desencadeou uma onda de críticas de ambos os lados do espectro político. Angel Ureña, porta-voz de Bill Clinton, atacou a decisão da Casa Branca de manter os documentos em sigilo por meses para só liberá-los em uma sexta-feira à noite. Em suas declarações, Ureña sugeriu que a motivação não seria proteger o ex-presidente democrata, mas sim "se proteger do que está por vir, ou do que tentarão esconder para sempre".
Em uma mensagem na rede X, o porta-voz afirmou que as autoridades "podem divulgar quantas fotos granuladas de mais de 20 anos quiserem", mas insistiu que "isso não tem nada a ver com Bill Clinton". Ele dividiu as pessoas envolvidas no caso em dois grupos: aqueles que não sabiam de nada e cortaram laços com Epstein antes dos crimes virem a público, e aqueles que mantiveram contato mesmo após as denúncias. "Nós estamos no primeiro grupo", declarou Ureña.
Do lado democrata, o líder no Senado, Chuck Schumer, acusou formalmente o Departamento de Justiça de violar a lei após a divulgação parcial dos arquivos. Schumer destacou que muitos documentos estão faltando e que os que foram liberados sofreram pesada censura, incluindo materiais considerados fundamentais do grande júri.
Críticas também vieram de políticos republicanos. O deputado Thomas Massie, do Kentucky, que liderou a campanha pela lei de transparência ao lado do democrata Ro Khanna, ressaltou que a legislação foi criada justamente para impedir esse tipo de censura por parte do Departamento de Justiça.
Novos detalhes e a conexão Trump
Os arquivos divulgados na sexta-feira também incluíram novos materiais do grande júri relacionados a Epstein e sua cúmplice, Ghislaine Maxwell Uma dessas apresentações, datada de 18 de junho de 2019, contém anotações telefônicas manuscritas com mensagens como "Tenho uma garota para ele" e "ela tem garotas para o Sr. J.E.". Em uma das anotações, há um registro de que Epstein recebeu uma ligação do atual presidente dos Estados Unidos, embora não haja detalhes sobre o teor da conversa. Questionado pela imprensa sobre o caso, Donald Trump se recusou a comentar. No entanto, sua equipe rapidamente circulou uma foto que mostraria Bill Clinton em um ambiente semelhante a uma banheira de hidromassagem, imagem que foi parcialmente ocultada nos arquivos por um retângulo preto. Trump, que foi próximo de Epstein e frequentou os mesmos círculos sociais, sempre negou ter conhecimento das atividades criminosas do empresário. Ele afirma ter rompido relações antes do início das investigações oficiais. Apesar de declarar apoio à divulgação dos arquivos durante a campanha presidencial de 2024, Trump resistiu por muito tempo à medida, classificando o caso como uma farsa. Ele acabou cedendo à pressão do Congresso e sancionou uma lei que exige transparência sobre o caso em novembro. A divulgação dos arquivos, marcada por omissões e imagens censuradas, deixa mais perguntas do que respostas e alimenta o debate sobre a transparência na justiça e o alcance da rede de influência de Jeffrey Epstein.