Do papel higiênico sem rolo à lingerie: como uma loja virou referência no mercado carcerário
Loja se especializa em produtos para o sistema carcerário

Quem diria que vender papel higiênico sem o tubo central ou lingeria "apropriada" poderia se tornar um negócio lucrativo? Pois é exatamente isso que aconteceu com uma loja em Minas Gerais, que decidiu mirar num público pouco convencional: o sistema carcerário.

Não foi por acaso. A ideia surgiu quando os donos perceberam a dificuldade dos familiares em encontrar certos itens básicos — mas com especificações bem particulares — para enviar aos detentos. "A gente começou quase sem querer", conta um dos sócios, entre risos. "Um cliente pediu um sabonete transparente, outro queria cuecas sem elástico... Daí veio o estalo."

Do básico ao inusitado

A lista de produtos é tão peculiar quanto necessária:

  • Papel higiênico sem o rolo interno (proibido em muitas unidades)
  • Lingeria sem aro de metal — sim, sutiãs podem ser considerados armas!
  • Chinelos sem cadarço ou partes removíveis
  • Alimentos em embalagens transparentes

E não para por aí. Tem até kit completo com tudo que um presidiário pode receber, já dentro das normas. "É triste, mas é a realidade", comenta uma cliente que frequenta a loja há anos para enviar pacotes ao marido. "Aqui a gente sabe que não vai ter o trabalho de montar tudo e depois ser barrado na portaria."

Um mercado que não para de crescer

Enquanto o debate sobre o sistema prisional esquenta no país, o faturamento da loja só aumenta. E não é difícil entender porquê: com mais de 800 mil presos no Brasil, a demanda por esses produtos específicos é enorme.

"No começo, os outros comerciantes riam da gente", revela um dos fundadores. "Agora, quem ri por último..." O tom é de brincadeira, mas os números são sérios: o negócio já expandiu para outras cidades e até criou um serviço de entrega direto nos presídios.

Claro que nem tudo são flores. Lidar com as constantes mudanças nas regras dos presídios é um desafio diário. "Tem semana que a gente precisa refazer metade do estoque", dizem. Mas o segredo, garantem, está em acompanhar de perto as necessidades desse público tão específico — e muitas vezes esquecido.