O Tribunal de Justiça do Amazonas (TJAM) condenou uma mulher de 32 anos pelo crime de exercício ilegal da medicina. A decisão, divulgada na última segunda-feira (22), envolve Sophia Livas de Morais Almeida, uma educadora física que se passava por médica especialista em cardiopatia infantil em Manaus.
O esquema da falsa médica
De acordo com as investigações da Polícia Civil, Sophia Livas foi presa em maio deste ano. Ela foi acusada de furtar o carimbo de uma residente em medicina que compartilhava o mesmo primeiro nome, dentro do Hospital Universitário Getúlio Vargas (HUGV). Com esse material, ela passou a usar o registro profissional da jovem no Conselho Regional de Medicina (CRM) para realizar atendimentos ilegais.
A falsa médica conseguiu se infiltrar em uma comunidade de médicos de um grupo de pós-graduação, ganhando a confiança dos profissionais. "Ela acabou se infiltrando em uma comunidade de médicos que faziam parte de um grupo de pós-graduação. Ganhou a confiança desses profissionais, fazendo com que acreditassem que ela era médica", afirmou o delegado Cícero Túlio. Com essa credibilidade falsa, foi convidada a integrar um programa de assistência a crianças com cardiopatia grave.
Falsa imagem de prestígio e condenação
Sophia Livas construiu uma imagem pública enganosa. Ela mantinha um podcast sobre cardiopatia infantil e usava as redes sociais para reforçar seu falso prestígio, chegando a se apresentar como sobrinha do prefeito de Manaus, David Almeida – informação que foi oficialmente desmentida pela prefeitura.
Em suas redes, publicava fotos atendendo pacientes e comemorando "avanços na ciência". Em uma das postagens no Instagram, ela afirmava iniciar as coletas do "projeto Renomica Brasil", que investigaria doenças cardiovasculares por meios genéticos. Todos os perfis foram apagados após a operação policial.
O TJAM condenou Sophia pelos crimes de exercício ilegal da medicina, perigo para a vida ou saúde de outrem, comunicação falsa de crime e estelionato. O tempo total da sentença não foi divulgado, mas a Justiça determinou que ela cumpra a pena em regime semiaberto.
Medidas cautelares e currículo fraudulento
Como está presa desde o início do ano, a Justiça aplicou medidas cautelares que incluem o uso de tornozeleira eletrônica, restrição ao perímetro urbano de Manaus, proibição de contato com vítimas e familiares (mantendo distância mínima de 500 metros) e impedimento de deixar a comarca sem autorização judicial.
A investigação também desmontou o currículo fraudulento apresentado por Sophia na plataforma Lattes do CNPq. Ela alegava especializações pela Fiocruz, USP e uma instituição em Portugal, além de se apresentar como pesquisadora da Ufam e da UFMG. A polícia constatou que ela possui apenas bacharelado e mestrado em Educação Física pela Ufam. A USP emitiu nota confirmando que Sophia nunca foi matriculada na instituição.
Em nota, o Hospital Getúlio Vargas informou que Sophia Livas nunca atuou como médica na unidade e não há registros de atendimentos feitos por ela. A instituição esclareceu que ela foi aluna de mestrado na Ufam como educadora física e, após concluir o curso, não mantém qualquer vínculo.
Até a última atualização, a defesa de Sophia não se manifestou sobre o caso.